Música: Cavalleria Rusticana – Intermezzo – Mascagni. Foto: Sinais de Cristo (Nicholas Hoerich)

Introdução

A entrevista com a escritora Shely Pazzini pode ser acessada no Canal do Pedra no Lago no Youtube, através do Link https://www.youtube.com/watch?v=Y7GZ0kx0x-I. Entretanto, devido a necessidade de fazer sínteses em função do exíguo tempo das lives, muitas respostas foram simplificadas.

Optamos, assim, por disponibilizar todas as visões da autora sobre temas filosóficos e espirituais a respeito do seu mais recente livro: “Entre Dimensões – A Vida Requer Atualizações”. Trata-se de uma obra preciosa que nos encoraja a vencer a nós mesmos, derrubando todas as máscaras e padrões que nos afastam da essência divina que somos. Ao mesmo tempo, um livro poético, de linguagem simples, que toca os pontos essenciais das transformações que precisamos fazer.”

A leitura do texto requer alinhamento interior e conexão com os nossos níveis elevados de consciência. A instrução traz em seu seio o desapego de padrões, conceitos e ideias; no subliminar, contém a força para a renovação e a percepção da Unidade da Vida.

Boa reflexão!

Apresentação

Shely Pazzini é escritora curitibana, formada em ciências biológicas e neurociência, entusiasta de uma vida natural, integrada e autossustentável. Esse já é o seu 4º livro publicado, os quais dão ênfase à reflexão sobre como podemos, através do silêncio e da quietude, ampliar nossa consciência de forma a termos uma maior compreensão da Verdade e da Unidade. Afinal, Somos Um. Seus livros consideram que  inúmeras camadas da personalidade precisam ser sutilizadas, abrindo espaço para que a Sabedoria Interior se expresse através de nós, que somos um só corpo-humanidade.

Perguntas e Respostas

Humberto: Sabemos que cada um de nós tem o seu próprio processo de criação de algo que exprima o que vem do nosso mundo interior. Assim é na música, na poesia, na arte de um modo geral e em todas as áreas da vida. Para você, escritora, como foi o processo de criação desse livro? Foi diferente dos anteriores? Em algum momento você relata que “não estamos sós”. Poderia aprofundar um pouco sobre esse tema?

Shely: Tem uma citação que diz que o livro é a invenção humana mais parecida com o homem, porque ele tem corpo e alma, sendo que um livro não é apenas a organização de informações através de palavras – ele carrega em suas entrelinhas o campo de consciência do autor, a energia que permeia a criação do livro. Ter a oportunidade de publicar vários livros revela muitas camadas da personalidade que vão sendo desveladas em cada etapa da vida. Para quem é escritor publicar um livro é uma conquista, e foi assim que senti quando o meu primeiro livro foi publicado. Ter minhas ideias compartilhadas e ter meu nome projetado a partir disso foi a motivação ao fazê-lo.

Já na segunda experiência a motivação foi compartilhar ferramentas que foram úteis para o despertar do meu autoconhecimento – então ali já não era mais uma simples divulgação da personalidade, era uma motivação de auxiliar. No terceiro, a verdade se fez presente, sem filtros nem máscaras, num chamado de entregar a  integralidade das vivências do processo da descoberta do vazio. Ali, já não importava a minha individualidade, apenas a mensagem que deveria repassar. Agora, este último, foi realmente especial.

A vida é profundamente filosófica … Precisamos saber ler o Livro da Vida

Durante o ano de 2022 acessei um campo amoroso, uma Energia Crística, que manifestei em forma de poesia. Não sabia bem o que fazer com elas, pensei em, talvez, fazer um livro só de poesias. Mas segui como fazia e as coloquei junto com os demais textos para ver como ficaria. Toda a formatação habitual na minha maneira de fazer foi desconstruída – como se aquelas formas anteriores não servissem para este momento. Os sinais e as sincronicidades foram acontecendo em sequência, dizendo que aquelas camadas da personalidade já reveladas antes não cabiam mais aqui.

Já na impressão do primeiro “boneco”, um “erro de impressão” me mostrou que o que estava sendo criado ali não era somente “mais um livro”. Quase 200 páginas saíram da ordem do arquivo. Textos do meio do livro foram impressos no início, e numa mesma página mesclou conteúdos que estavam separados. Quando me deparei com aquela situação, imediatamente fui reativa e tentei cancelar a impressão, e parar aquela “confusão” sem sucesso.

Sem entender o que estava ocorrendo ali, percebi que tinha algo sendo informado, e passei a observar com atenção o que aquele processo estava comunicando. Assim, surgiu a introdução e as três partes que compõem o livro no formato em que ele foi publicado. Parte do conteúdo simplesmente não foi impresso – foi excluído desta publicação.

Na segunda impressão peguei um maço de folhas na quantia exata do arquivo reconfigurado – 112 páginas deste conteúdo que agora temos a oportunidade de compartilhar um pouco também através do verbo falado. Caso estes fatos tivessem ocorrido em outro momento, teria ignorado e mantido a linearidade do fazer condicionado. Mas quando estamos em presença atenta, percebemos que estamos sendo guiados e que jamais estamos sós.

Mas para isso é preciso abertura para remover as camadas da personalidade que cristalizam a percepção e impedem que recebamos o que é necessário. Esta experiência foi claramente um chamado para uma ATUALIZAÇÃO, para que comecemos a nos reconectar com esse campo de consciência unificado do qual fazemos parte.

Humberto: A introdução do seu livro “Entre dimensões – A vida requer atualizações”, deixa claro que existe uma enorme oportunidade para crescermos em consciência, desde que sigamos a voz interior e não apenas a nossa mente. Poderia falar sobre os principais motivadores que deram o nome a esse livro? Quais atualizações precisamos fazer?

Shely: Existe uma sensação pessoal, compartilhada também por muitos dos que tenho contato, de que não somos mais quem eramos antes, mas também não somos quem seremos em breve. Como se estivéssemos em uma longa estrada, onde é impossível retornar, mas que também não mostra ainda o horizonte da nova paisagem. Sabemos de onde partimos e também onde queremos chegar, mas estamos ENTRE estes 2 pontos, nem lá nem cá – suspensos num tempo-espaço que está a se atualizar.

Em uma viagem precisamos estar abertos ao que se apresentar, e nem sempre a linearidade da mente formatada irá nos ajudar. Indo em direção a uma nova paisagem, a neuroplasticidade vai atuar – sairemos dos condicionamentos e somente compreenderemos o diferente, o novo, pelo sentir, que acolhe sem julgar.

“Entre dimensões – a vida requer atualizações” reflete esta transição que estamos a passar – de um controle pelo condicionamento mental que limita a percepção do que é real para um estado mais sutil de sentir e perceber, ampliando a consciência para o desvelar do que somos de verdade, para além daquilo que nos venderam como realidade.

Atualizar os conceitos que nos trouxeram até aqui e assumir novas condutas é o chamado para todos nós como humanidade. Estamos tendo uma oportunidade grandiosa de fazer um segundo olhar para a vida a partir de um panorama mais ampliado, que desvelará novas paisagens de nós mesmos.

Renovar as formas de enxergar e de nos relacionar conosco, com o outro e com o mundo – fazer um segundo olhar – passar a considerar que o que vemos é apenas uma pequena fração da realidade, geralmente distorcida pela interpretação equivocada dos conceitos que dirigem nossas vidas.

Posso citar dois pontos principais para nossa reflexão:

1. Desidentificação mental (sair do automatismo e reatividade) – “Estamos aqui para encontrar aquela dimensão dentro de nós que é mais profunda que os pensamentos.” (Eckart Tolle)

2. Purificação dos excessos (desapego) – “Só é útil o conhecimento que nos torna melhores.” (Sócrates)

Humberto: É nítido que vivemos em ininterruptos ciclos de experiências e aprendizagens; durante vidas seguimos repetindo os mesmos padrões de comportamentos e reações. Parece que não conseguimos sair desse samsara (roda das encarnações), da repetição e dos ciclos de automatismo e reatividade. Na sua visão, como podemos nos livrar desse automatismo que parece colocar pesadas correntes aos nossos pés?

Shely: Existem três pontos importantes que podemos considerar aqui: autoconhecimento, presença e o poder da decisão (força de vontade). Reconhecendo, dentre tudo o que nos entregaram – nomes, crenças, nacionalidades, papéis desempenhados – quem Somos nós de verdade, removendo a reatividade pela presença consciente que permite o uso inteligente em cada atividade.

“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” (Cristo)

“Conhece-te a ti mesmo.” (Templo de Delfos)

Mas para conhecer o que Somos é necessário reconhecer o que NÃO SOMOS – um programa que roda automaticamente crenças e padrões preestipulados, repetidos sem consciência, como no caso dos ditos populares, jargões. O pano de fundo que passa ininterruptamente pela mente e define as suas ações.

Você pensa ou é pensado? Repetir é fácil – não requer raciocínio porque é automático, como nas afirmações positivas que não geram resultados, pois repetidas sem consciência, como fazem os papagaios adestrados.

Trazer presença a cada pensamento e ação. Observar a reação que tenho a cada questão e situação – respondo com o coração ou só repito como faz a multidão?

O discípulo perguntou ao Mestre: como faço para sair do samsara? O mestre respondeu: Quem te colocou nele?

Podemos citar como exemplo um software, um aplicativo é desenvolvido para atender executar uma determinada função e, após instalado, ele roda automaticamente mesmo em segundo plano. As vezes aquela programação já não é mais necessária, e ela permanece ali ocupando espaço e confundindo. É preciso atualizar.

Humberto: Uma das mais difíceis batalhas é vencer a nós mesmos, ou seja, derrubar todos os muros que construímos que impedem que a luz do ser se manifeste. Os apegos são um dos mais severos impeditivos ao nosso crescimento. Mas é preciso coragem e decisão para nos renovarmos continuamente. Poderia explorar um pouco esse tema?

Shely: Me recordo de uma situação que presenciei quando tinha uns doze anos, quando uma mulher pediu ajuda a um médico e ele disse a ela que teria que fazer também a sua parte, pois sozinho não poderia resolver aquela questão. Ele pediu para ela assumir ativamente seu papel naquele tratamento, e eu me lembro também da minha reação venda aquela situação; fiquei chocada e me questionei como ele teve coragem de pedir a ela que se responsabilizasse pela sua própria cura.

Aqui surgem três elementos para reflexão: a terceirização (pela nossa própria vida), a vitimização (que espera que alguém nos salve) e a repetição de padrão (que nos torna reativos, antes mesmo de analisar com inteligência a situação).

Após muitos anos desse fato, me dei conta que reagi de acordo com o condicionamento padrão que me foi implantado – de julgar sem pensar, de ver sempre uma vítima e um algoz, um bom e um mau, um capaz e um incapaz. Dividindo e recortando, distorcendo e interpretando mal algo que seria tão natural, caso tivéssemos aprendido sobre a importância de gerenciar a nossa própria vida com autonomia, a partir da responsabilidade pelas nossas escolhas e da consciência dos seus resultados.

Mas nos disseram que somos incapazes e dependentes; compramos isso como verdade, e o vício da vitimização tomou conta da mentalidade coletiva, que sempre espera que alguém, lá de fora, venha nos salvar.

Esse apego a um elemento externo que possa nos salvar tem nos deixado há milênios no mesmo lugar. Não há como avançar sem assumir a responsabilidade pela própria vida. Sem coragem para assumir a autonomia por nós mesmos, continuamos alimentando esse vício do vitimismo, que apenas com a decisão firme em atualizar essa experiência de terceirização para a capacidade de gerenciar a própria vida será vencida, superada e transcendida.

Humberto: Quando buscamos ardentemente pela autotransformação, quando nos esvaziamos por completo, por alguns segundos temos a sensação de plenitude, uma sensação meio paradoxal, porque sentimos uma espécie de Vazio que é Tudo. Você fala sobre isso no livro. Poderia aprofundar essas inusitadas experiências?

Shely: Para adentrar nesta abordagem é preciso atualizar o conceito de vazio. Entendemos e nos referimos ao vazio como algo oco e sem conteúdo; dizemos por exemplo que uma pessoa é vazia quando ela é superficial, não tem profundidade, como alguém ausente de si, inconsciente de quem ela é.

Mas o vazio a que nos referimos aqui é o Vazio que contém Tudo – é a própria expressão do nosso existir. Parece um paradoxo, mas isso pode se tornar mais claro a partir do relato de uma experiência que vivi no início da pandemia.

Quando o fazer externo deixa de fazer sentido e passamos a nos desidentificar das coisas, como ocorreu com muitos na pandemia, só resta o que é essencial, o que compõe a verdade do que nós Somos. Me recordo do momento em que compreendi que podemos fazer qualquer coisa – pois temos essa capacidade, mas que não precisamos fazer nada – porque já somos tudo.

Essa nova percepção, oposta ao que reproduzi a vida toda neste sistema de produção-consumo, que mede e qualifica cada um de nós pela sua produtividade em alimentar o sistema, me proporcionou uma vivência intensa de PLENITUDE DO VAZIO – que mais tarde se tornou o subtítulo do livro Conexão entre Mundos, onde publiquei na íntegra os textos escritos durante aquele processo.

Quando saímos do piloto automático do fazer, que sustenta a personalidade criada para alimentar o meio e partimos para um estado de não-ação, de não repetição de padrões, alcançamos o que nos é genuíno, intrínseco – e passamos a expressar quem somos de fato: seres perfeitos e completos, por mais que nos tenham feito acreditar no contrário.

O Vazio é a plenitude de simplesmente ser quem Somos.

Humberto: Parece difícil para uma humanidade tão polarizada na dualidade considerar viver como um ser integral, capaz de uma vida plena e com autonomia sobre si mesma, sem parecer utópico. Mas você tem trazido, desde o seu primeiro livro, a possibilidade de desenvolver essa integralidade. Quais seriam os princípios básicos para nos aproximarmos desta possível realidade?

Shely: Citarei alguns para nossa reflexão, fazendo pontes entre conceitos, valores e virtudes:

∗ Ser integral, inteiro, indiviso. Uno.

∗ Ausência de conflitos e de comandos duplos. Coerência.

∗ Saber o que se quer e a cada momento seguir nesta direção. Determinação.

∗ Ativar a disposição pela própria lapidação. Autorresponsabilidade.

∗ Não se distrair e ser a cada minuto a sua melhor versão. Desenvolvimento e evolução.

∗ Traçar novas rotas se for preciso. Resiliência.

∗ Fé. Ressignificar a confiança. Con-fiar, tecer junto um novo olhar. Confiança.

∗ Sair do papel do pequeno querer, para receber o que é preciso. Coragem.

∗ Que eu receba não o que eu quero, mas aquilo que é preciso. .

∗ Ciente dos plantios que fizemos e das colheitas que teremos. Consciência.

∗ Assumir a responsabilidade de peito aberto. Força.

∗ Que tenhamos a exata medida do que merecemos. Dignidade.

Humberto: Gostaria de compartilhar aqui uma poesia do seu livro que gostei muito:

“Regozija-te. Apoia-te sobre tuas pernas e segue o caminho que se abre. Muitas serão as ilusões disfarçadas de luz. Mantém-se sereno, e passará por todos os estágios com sobriedade. Nada acontece em vão; aceita com confiança no coração o que se apresentar e segue o fluxo de si mesmo, nessa torrente de evolução. Não te escapes, e tudo vivas, sem apegar-se, segues em frente. Sai do antigo e vive o novo, novo a cada instante. Aceita-te e abra-te para a surpresa do inesperado, tão esperado”.

Shely: Gostaria de fazer um adendo, sobre como uma interação entre campos de consciência podem revelar outras nuances que antes tinham passado desapercebidas.

Quando o Humberto me propôs a falar sobre o livro, criei uma estrutura mental de acordo com o corpo do próprio livro, para discorrer sobre o processo criativo e os elementos que o compõe. Num breve rascunho manuscrito, algo muito interessante foi percebido.

Observando a energia que conduziu sua manifestação, claro foi que a energia Crística esteve presente em toda sua concepção, incluindo as poesias permeadas pelo raio do amor-sabedoria.

Mas ao observar a conotação de cada uma das três partes que compõe o livro, percebi a presença de três outras energias específicas, das quais compartilho aqui, para trazer um permear sutil que pode ser compreendido também pela mente racional.

Encerramentos são também recomeços – parar de repetir para reconectar: Permeado pela energia do 1º raio – vontade e poder (repetição e desapego)

Conhecendo reconhecemos – reconhecer para resgatar: Permeado pela energia do 3º raio – atividade inteligente (inteireza pelo contraste – denso e sutil. Dualidade como meio de aprendizado)

Atualizar para ascender – voltar ao natural para evoluir: Permeado pela energia do 5º raio – ordem e cerimonial (vazio, silêncio, não-saber – inteiração real com a natureza)

Humberto, agradeço pela oportunidade e almejo que seu projeto reverbere em cada coração que nesta busca por aprimoramento, também está.

°•SOMOS•°

Reflexões adicionais da escritora

O que seria atualizar a vida?

Distorcemos, aumentamos e ignoramos a nossa leitura do mundo pelos conceitos equivocados que nos trouxeram até aqui, neste ponto que chegamos – vivemos ilusões – e a comprovação se vê na deterioração da natureza pela ausência de ética humana.

Falta a verdade. Mas o que é a verdade?

Conheceremos ela quando purificarmos os excessos que nos afastaram dela.

Reconhecer quem somos, para além dos papéis, títulos, funções e cargos. Compreender o que estamos fazendo aqui. Enxergar o outro como Divino e não como algo que deva nos agradar, sabendo que cada um está fazendo o seu melhor.

Repetir sem refletir cristaliza no limite da interpretação e impede o seu seguir – desdobrar, fluir, espiralar, evoluir, no sentido da Unidade.

Tudo informa e comunica. Há um dinamismo renovado que se mostra a quem está acordado, para aqueles que ativaram o sentir para além da razão.

Entre Dimensões – a vida requer atualizações” traz um tom peculiar de força e amorosidade, de um campo benevolente que está presente e que muito tem a comunicar. Pertencer é estar ativamente presente, cada um de nós, fazendo o nosso melhor.

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