Integridade e Valores Morais
Albinoni-Adagio

Um texto precioso de Kalpana H. Rawal sobre valores morais e ética. Considero que à verdadeira integridade chegaremos quando a vida estiver pautada pela nossa consciência mais elevada, de forma a expressar no mundo valores ligados à compaixão, à faternidade e ao amor. Esses valores devem se cultivados e buscados dentro de nós, como se estivéssemos ávidos por encontrar o diamante que reflete a Luz do Criador.

A expressão deles nos eleva além da moral e da ética: revela o princípio da unidade, trazendo a percepção de que Somos Um com a Criação. Elimina da consciência qualquer possibilidade de sermos imoral, antiético ou injusto.

O texto a seguir foi extraído na íntegra da Revista SOPHIA, No. 78, cuja publicação foi autorizada pela Editora Teosófica. Kalpana H. Rawal é advogada queniana-asiática e ex-Presidente da Corte Suprema do Quênia.

Na superfície, os termos “integridade” e “valores morais” parecem se sobrepor, mas há uma sutil diferença entre os dois, já que desde tempos imemoriais o conceito, as práticas e as consequências da não obediência dos valores morais têm tido papel relevante nas esferas religiosa, social e pessoal de nossas vidas.

O mundo moderno, que tenta combinar o domínio filosófico, moral e científico, parece estar confuso, destituído de foco sobre nossa resistência e atitudes. Além disso, os ideais políticos e sociais nos afastam do quadro nítido de nossa existência inata. Nossos valores estão mudando tão rapidamente que é difícil compreender sua inter-relação com a vida mundana. Parece que estamos sós para descobrir onde estamos e como devemos seguir adiante.

Os valores morais são considerados os mais elevados atributos entre todos os valores naturais. É por isso que bondade, pureza, verdade, humildade e altruísmo são mais cotados em termos éticos do que atributos como genialidade, competência, eficiência e assim por diante. Esta não é uma lista completa ou exclusiva. O que está compreendido num ato de verdadeiro perdão, de renúncia generosa, de amor incondicional, de aceitação aberta de todos os seres como são, é considerado como mais nobre e mais importante que todos os valores culturais. Sócrates e Platão repetidamente afirmaram que é melhor sofrer uma injustiça do que praticá-la.

Os valores morais não são herdados como são a beleza ou outras características físicas. Eles precisam ser conscientemente internalizados. Precisamos perceber plenamente sua importância, sua inevitável necessidade em nossa vida, com uma visão clara à luz de uma dimensão mais elevada, derivada da consciência interior.

Vejamos um exemplo: duas pessoas testemunham uma injustiça infligida a uma terceira. A primeira se pergunta apenas o que aquilo significa para si mesma; ela não se preocupa, porque calcula que nenhum dano pessoal pode resultar da injúria ao outro. A segunda pessoa, pelo contrário, toma o sofrimento para si, ao se incomodar com a injustiça praticada. Para essa segunda pessoa, a questão não é o efeito da injustiça sobre si mesma, mas a importância da situação como um todo. Não se trata do fato ser ou não agradável para ela, mas do fato em si. Esta última comporta-se moralmente bem; a primeira, de forma egoísta, porque ignora a questão dos valores.

Somente aquele que entende que existem coisas importantes por si mesmas, que são belas e boas em si mesmas, somente aquele que compreende a demanda dos valores, o seu chamado, o dever de atender a eles e de se deixar ser formado por sua lei, é capaz de compreender os valores morais. Somente aquele que consegue ver além de seu horizonte e que não pergunta o que é satisfatório para si, deixando para trás as noções estreitas e egoístas, entrega-se àquilo que é importante em si – o belo, o bom – e subordina-se a eles totalmente. Somente esta pessoa pode se tornar portadora de valores morais.

Os valores morais são importantes por si mesmos, assim como o amor incondicional, a gentileza, a pureza, a verdade, a lealdade, a honestidade, a responsabilidade em relação à natureza, a si mesmo e à sociedade. A falta desses valores significa egoísmo e total desconsideração pelos direitos e sentimentos dos outros, e é um conceito errôneo de liberdade. Infelizmente, essa é a posição que mais prevalece no mundo atual. Os desentendimentos e mal-entendidos sobre a liberdade de viver a própria vida apenas para si são razões de miséria no mundo moderno.

Nesse contexto, direitos sem percepção das obrigações correspondentes são superenfatizados e utilizados sem hesitação. A propensão ao uso de álcool e drogas, o egocentrismo, o desalento moral são alguns dos efeitos dessa “liberdade”. Estamos sendo guiados rumo a uma existência frágil, incoerente e sem significado, e descrevê-la como vida é um insulto ao real significado de vida.

O modo como vivemos é escolha nossa. Deus nos deu o dom de pensar e escolher. Pense e escolha por você mesmo. Mas, para citar Marco Aurélio (Meditações), “não perca mais tempo discutindo como deve ser um homem bom. Seja um”.

Isso nos leva a alguns pensamentos sobre “integridade”, que vem do adjetivo latino integu (total, completo). Isso se adquire após a compreensão do conceito de valores morais. A pessoa tem integridade quando vive segundo os valores, crenças e princípios que afirma possuir.

Podemos ouvir o que Marco Aurélio diz: “Se não é certo, não faça; se não é verdadeiro, não diga”. Para saber o que não é certo ou não é verdadeiro é preciso que tenhamos valores morais inculcados em nós. Seremos então uma pessoa íntegra, que faz o que é certo e diz o que é verdadeiro, uma pessoa que baseia suas ações numa estrutura internalizada e consistente de princípios; tudo que fizermos estará solidamente estruturado em nosso conjunto de valores.

Uma pessoa com integridade faz o que é moralmente certo e está contente simplesmente com o que tem e o que é. Integridade é nada mais do que viver uma vida boa em sua totalidade, sem comparação ou competição, como disse Lao Tzé. Não importa se suas boas ações são reconhecidas ou não. Nada é mais sagrado do que a integridade de nossa própria mente, como afirmou Abraham Lincoln: “Não sou compelido a ganhar, mas a ser verdadeiro. Não sou compelido a ser bem-sucedido, mas a viver pela luz que possuo.”

Hoje o conceito de integridade é aplicado também à lei, aos negócios, à ciência: “Onde os resultados do teste combinam com as expectativas da hipótese científica, existe integridade entre a causa e o efeito da hipótese por meio de seus métodos e medidas. Onde os resultados do teste não combinam, o relacionamento causal esperado na hipótese não existe.”

Mesmo em eletrônica, diz-se que os sinais têm integridade quando não há corrupção de informação entre um domínio e outro. Portanto, a informação corrompida não é confiável. Não podemos subestimar a necessidade da integridade em todos os setores e estágios da vida como uma pessoa individual, uma sociedade, uma corporação e um estado.

Em Direito, a integridade está entrelaçada com tradições do processo penal e regras processuais que ambos os lados na disputa concordarão em respeitar. O processo admite ainda que ambos os lados demonstrem vontade de compartilhar evidências, seguir diretrizes de debate e aceitar as decisões judiciais a que se chegou em boa fé num esforço para alcançar um resultado justo. Sempre que se descobrir que essas suposições são incorretas, o sistema penal será considerado injusto, enfraquecendo assim qualquer caso dado. E, o que é mais importante, quando essas suposições são incorretas e a verdade não é mais a meta, a justiça é negada às partes envolvidas e a integridade geral do sistema legal é questionada. Quando isso ocorre, a sociedade servida por esse sistema experimentará ruptura ou mesmo caos em suas operações, já que o sistema legal será incapaz de funcionar. Essa é uma grave questão de jurisprudência, e espera-se sempre que a lei se sujeite aos valores morais.

A integridade deve se tornar um fio comum em todos os estágios de nossa vida, da sociedade, do governo e do mundo. Como afirmou Martin Luther King Jr., “todo homem deve decidir se caminhará na luz do altruísmo criativo ou nas trevas do egoísmo destrutivo.”

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