A oração simplifica. Revela-nos o amor pelo que é interno, e assim deixamos de nos envolver com as coisas que complicam a vida. Na verdade, aquilo com que ficamos enredados é algo que ainda não soubemos soltar. Com a vida de oração aprendemos a fazê-lo e, desse modo, acabam-se muitos problemas.

Na vida de oração temos de trilhar a senda do desapego. É uma experiência transformadora sentir a plenitude, a liberdade e a expansão vindas do desprendimento das coisas que consideramos vitais e importantes.

Uma situação de desarmonia tende a avolumar-se como um balão de gás. Se não estivermos vigilantes, o “balão” vai crescendo e parece ser capaz de nos tirar os pés do chão. Mas se nos voltarmos para a oração, ela, de modo simples e sem lutas, vem como um alfinete e esvazia tudo. Por nada nos deveríamos abalar.

Viver em oração é abrir continuamente o caminho único que se desvela a cada um de nós. É estar em busca sem ânsia, é esperar sem expectativa. Nada é mais benéfico para o mundo do que essa oferta serena.

Se já não nos satisfaz falar de oração, ler bons livros e acumular conhecimento a seu respeito, então estamos prontos para viver em oração.

Um grande passo na vida de oração é procurar unir o que fazemos no cotidiano com as condutas mais elevadas de que temos conhecimento. É mais efetivo buscar a cada dia um pequeno avanço nessa direção do que esperar extraordinárias transformações repentinas.

As mudanças repentinas que abrem novas perspectivas na vida não são fatos instantâneos ou isolados. São possíveis devido a várias pequenas transformações que as precederam e prepararam.

A oração não precisa limitar-se a um horário, a uma forma de sentar ou de respirar, a palavras ou frases, nem a regras. A vida de oração deve ser a nossa vida. O que fazemos, o que dizemos, os pensamentos e sentimentos que nutrimos, nossas opções e escolhas – tudo pode ser oração. Se assim for, quando estivermos juntos para orar, a energia reunida será como um farol na noite terrena.

Se a vida de oração nos bate à porta é porque chegou o momento de nosso eu interno expandir sua luz no mundo. Que nossas expectativas, sonhos ou planos não sejam um obstáculo.

Na vida de oração floresce a humildade, e um dos seus mais belos frutos é a aceitação do caminho que devemos seguir. Quando aceitamos nosso destino, a oração se aprofunda. A aceitação é básica para sabermos o que há a transformar e como transformar.

Quando a oração age, percebemos que ela está por trás de tudo o que fazemos de melhor, e isso muda nossa visão. Vamos reconhecendo que muitos seriam os erros e equívocos se confiássemos em nossas possibilidades humanas. Tudo o que nos cabe é entregar-nos à energia de infinita bondade e amor que nos conduz.

“Não me deixe rezar por proteção contra os perigos,
mas pelo destemor em enfrentá-los.
Não me deixe implorar pelo alívio da dor,
mas pela coragem em vencê-la.
Não me deixe procurar aliados na batalha da vida,
mas a minha própria força.
Não me deixe suplicar com temor aflito para ser salvo,
mas esperar paciência para merecer a liberdade.
Não me permita ser covarde,
sentindo sua clemência apenas no meu êxito,
mas me deixe sentir a força de Sua mão quando eu cair.”
(Rabindranath Tagore)