Nossa consciência desperta para a vida de oração principalmente quando sentimos a necessidade de manifestar condutas puras. Não fiquemos indiferentes ao chamado interno e deixemo-nos permear por vibrações espirituais.
No princípio, são muitos os motivos que nos aquecem o coração para orar; mas, depois, a oração mesma vai nos mostrando que não vem por motivo algum, nem tem metas práticas ou palpáveis. É isenta de qualquer interesse e, certamente por isso, curadora. Num mundo como este, em crise, mundo em que o ego, possessivo e temeroso, fica tão resistente, não há nada mais equilibrador.
Uma alma orante não ambiciona sequer a própria perfeição. Basta-lhe o amor a Deus. Ela é terreno dócil para o Seu arado. Ama o Caminho mais sagrado, e esse amor a alenta. Ascende, apesar da atração que a matéria densa exerce, pois sabe que a escalada é a via para o Encontro.
Quando a oração desabrocha, o coração é alimentado pelo amor impessoal. Se deixarmos que esse amor incendeie a vida, onde víamos queda veremos serviço. Mas é preciso renúncia incomum, a ponto de nos predispormos a não querer nada e a não lamentar quando a vida nos coloca numa condição mais despojada. É preciso lembrarmo-nos de que essa é a condição de maior liberdade.
No espírito da oração, descobrimos que nada pode degradar quem está receptivo ao mundo interior. Dependendo da atitude, pode-se viver uma pobreza sagrada ou uma pobreza miserável, uma solidão libertadora ou uma solidão angustiante, um vazio que abre novas perspectivas ou um vazio que desvitaliza o ser. É a consciência que determina a forma como os fatos se apresentam aos olhos de quem vive.
Não importam as circunstâncias em que estamos, o fundamental é não nos afastarmos dos princípios internos e espirituais que já conhecemos. É preciso escalar a montanha da Vida Pura. E, ao chegarmos ao cume, veremos a passagem para o além-Terra.
Neste momento em que conceitos e estruturas mentais cristalizadas tanto pesam em todo o planeta, o esvaziamento trazido pelo estado de oração é bálsamo curador e fonte de equilíbrio.
Há inúmeras formas de orar, e todas começam pela abertura ao eu interior. Depois, chega a fase de trabalho decidido sobre a mente. Uma vez realizado, a alegria que então surge deixa o mundo mais leve.
Não devemos gastar tanta energia com forças caóticas; em vez disso, com todas as nossas possibilidades, amemos a Deus. Na oração, o amor a Deus é começo, meio e fim; é motivo e fruto – é a verdadeira dádiva que tudo transforma.
“Pai, faze-me o que for preciso
e conduz-me à verdade de meu ser;
dá-me isto que na Tua sabedoria suprema
Tu vês como a coisa que me falta”
(Mirra Alfassa – A Mãe)