Fritz Kreisler – Rachmaninov. Piano Trio

A gratidão aflora cada vez mais ao reconhecer as riquezas imateriais que temos ao nosso dispor. Um sentimento contrastante com o cenário conflituoso de guerras que fere a dignidade humana, confirmando a máxima de que os contrastes trazem luz à consciência. E noto que quanto mais o abismo se aprofunda, mais às alturas do mundo espiritual somos elevados, como se o Criador nos confiasse a guarda de tesouros que precisam ser protegidos.

É visível que o nosso jardim vai sendo regado pela chuva da misericórdia divina, e percebemos que é através do amor e do serviço que podemos retribuir à vida por tantas bênçãos. Não uma retribuição compensatória, mas algo que surge do impulso criativo que traz a comunhão com o espírito.

Às vezes o ego nos confunde, achando que não merecemos receber tantas dádivas. Essa pseudo humildade é fruto da soberba em achar que primeiro devemos estar prontos, ao invés de nos entregarmos ao Ser, permitindo que a própria energia construa o que ainda está por ser feito.

O serviço vai ao encontro da vocação da nossa alma e nos ajuda a seguir, com fé, a busca dos nossos melhores propósitos. Todo esse contexto simboliza as dádivas que recebemos, as quais ativam os códigos lumínicos das células, como sementes que germinam, criam raízes e estendem os ramos em direção à Luz.

Subitamente, como uma epifania, percebemos que o “nosso maior tesouro, nosso guia e farol é o mundo interior. A ele devemos confiar a condução da nossa vida, sabendo que nessa jornada pela eternidade não estamos sós: irmãos de elevadas consciências nos assistem, nos instruem e conosco caminham”. Proteger esses tesouros impõe vigilância permanente aos pensamentos, sentimentos e ações e, principalmente, a necessidade da lembrança constante do nosso Eu Superior.

Vivemos como os centauros da mitologia grega, os quais evidenciam os opostos dentro de nós: metade homem e metade animal. É o simbolismo da dualidade entre a natureza humana e as forças instintivas que precisam ser domesticadas para que a conexão com o nosso Eu se dê. O desafio é, portanto, viver uma vida unificada com o espírito, abrindo nosso Coração para que as forças da inércia da matéria sejam transmutadas. Elas embaçam a visão e impedem que o Propósito se cumpra.

No aconchego do lar, como se estivéssemos sob uma campânula de proteção divina, sobrevem um sentimento de que estamos abrigados do vento, da chuva e do frio. Uma inefável sensação de plenitude trazida pelo amor que nutre e sacia nossa fome de generosidade. Percebemos o que é a verdadeira abundância: a garantia do acesso ao suprimento espiritual que nos eleva em consciência. É invisível aos olhos, mas pode ser sentida pelo Coração.

A vigilância precisa ser total para que nada macule essa plenitude, de forma que nossa casa não seja tomada de assalto e que rajadas de vento não destruam tudo aquilo que, por Graça, recebemos. Se estivermos abertos às forças da Luz, nossa morada será guardada por Aquele que tudo sabe e tudo vê.

Para honrarmos todos esses tesouros precisamos, também, acender em nós a chama da devoção, deixando-a incendiar por inteiro em amor ao Supremo Criador. Essa chama renova a fé e a entrega e, ainda que tênue, já ilumina a escuridão da noite e renova as esperanças de viver em um mundo mais justo, nobre e fraterno.

Pelo fervor do nosso Coração, nossa pequena lamparina pode ser absorvida na Grande Luz, e tudo pode ser permeado, subitamente, por uma intensa claridade. Mas essa tênue lâmpada acesa ainda não é suficiente para nos estabilizar mental e emocionalmente e, assim, vamos alternamos momentos de radiância e de aridez. Em que pese essa alternância, a vontade e a aspiração para que o bem se expresse é o combustível que não nos deixa perder a fé e o ânimo pelo aperfeiçoamento.

Imersos no ser, vamos retirando os nódulos internos do bambu que somos, de forma que a luz penetre sem projetar sombras. Assim, Aquele que nos criou pode fazer de nós uma flauta e tocar Sua música. Ele é o verdadeiro Maestro e Guardião da harmonia, da beleza e de todos os tesouros espirituais.

“Concentre-se no Coração. Entre nele, penetre-o, aprofunde-se tanto quanto possível. Reúna todos os fios de sua consciência que estão espalhados por fora e à sua volta; enrole-os, mergulhe e afunde. Um fogo está ardendo lá, na profunda quietude do Coração. É a Divindade em você, seu verdadeiro Ser.
Escute sua voz, siga seus ditames”
(Mirra Alfassa – A Mãe)

Referência para leitura: Livro “Das Lutas à Paz” – José Trigueirinho, editora Pensamento.

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