Indicações

Escrever sobre o perdão parece ousado demais, beirando à presunção: como um ser tão imperfeito pode escrever sobre algo que parece restrito aos puros de coração, aos escolhidos? Essa é a voz mental atuando; se você der ouvidos a ela, simplesmente você trava geral, fica inerte. Parece ser um divisor de águas importante para o equilíbrio e para o efetivo perdão, o fato de sabermos distinguir dentre o que é um “ruído mental”, oriundo de padrões de pensamentos arraigados e fomentados pelo inconsciente coletivo, daqueles que vêm de uma fonte limpa, do interior do ser.

Diante dessa luta de opostos, a voz da mente quase sempre tem mais peso, porque ainda estamos muito condicionados a padrões comportamentais forjados por um longo processo educacional focado no “ter” e não no “Ser”. Adicionalmente a isso, as questões culturais, os sistemas de crença e valores, reforçados todo o tempo pela mídia, fazem a mochila ficar ainda mais pesada.

O fato é que precisamos de respostas às perguntas: “como poderemos aceitar nossos próprios erros e nos perdoarmos de verdade?”, “como ter compaixão pelo outro e ser fraterno com aquele que te magoou?”, “como limpar a mágoa, aquele resíduo corrosivo que parece não poder ser erradicado?”

“A fragrância, na rosa, é mais poderosa que os espinhos. Quando a Graça do espírito te fortalecer, trata teus irmãos como foste tratado pelos que souberam compreender-te. Não exijas deles fortaleza quando precisam simplesmente de amor fraterno”.
(José Trigueirinho)

Graças a Deus passamos por momentos especiais, de enlevo, de pura Graça, vivências interiores que emanam vibrações de um nível mais profundo; e é dai que vem a força e a coragem para vencer a nós mesmos. Surgem, então, os sentimentos e os atributos ligados à serenidade, ao equilíbrio, à fraternidade e à compaixão. O verdadeiro perdão só pode surgir dessa região do ser. Esses momentos de inspiração, embora fugidios e raros, trazem momentaneamente o alinhamento com a alma e deixam um rastro de luz que acaba permeando todo o ser por algum tempo. Esse enlevo parece ser a chave para a libertação das correntes mentais.

Considero que o perdão é o requisito principal para a verdadeira fraternidade entre os seres humanos.  Nosso Ser Interno, este núcleo de Paz e de Amor que nos anima, nos atrai para o Alto, para Deus. Essa força de atração, sempre presente e as vezes percebida nos momentos de recolhimento e de silêncio, ou até em sonhos, faz com que a mente seja “abraçada” pelo Coração, sendo esse abraço a peça-chave para o perdão e para a reconciliação.

O sentimento de união trazido pela Graça vem nos brindar com um inusitado estado de paz e de comunhão com tudo e com todos; a tolerância aparece, a aceitação plena do outro tornar-se real. E acabamos, também, por perdoar a nós mesmos.

Essa gota de Luz que desembaça nossa vidraça por alguns momentos deixa um rastro de luminosidade que nos sustenta naquelas ocasiões de fragilidade. No viver diário, passamos a nos lembrar desses instantes de clareza, a assim podemos agir e reagir como se a mente estivesse imersa todo o tempo na Luz dentro de nós. Surge uma abençoada percepção da Unidade, que é o requisito para a cura de todas as ilusões.

Se é possível nos relacionarmos com nosso Ser Interno, também é factível lidar com o próximo e vê-lo sob esta mesma perspectiva interior. Isso vai possibilitar um relacionamento mais elevado, em que pese as limitações humanas. O perdão só será possível e real se a Graça Divina bater à nossa porta e remover os obstáculos que impedem a manifestação da Luz. O verdadeiro “perdoar” virá sempre do profundo da alma, cicatrizando as feridas deixadas pela corrosão dos ressentimentos.

Segue citação do livro Respostas da Vida – Chico Xavier

“… desculpe e você compreenderá; onde existe amor não há lugar para ressentimentos. Ao colocar-se na condição de quem erra, seja qual for o problema, de imediato, notará que a compaixão dissolve qualquer sombra de crítica.

A existência humana é uma coleção de testes em que a Divina Sabedoria observa-nos com vistas à nossa habilitação para a Vida Superior. Quem hoje condena o próximo, não sabe que talvez amanhã esteja enfrentando os mesmos problemas daqueles companheiros presentemente em dificuldade.

Nos esquemas da Eterna Justiça, o perdão é a Luz que extingue as trevas, e às vezes, aquilo que parece ofensa é socorro oculto do mundo espiritual em seu benefício.

Segue citação de Paul Brunton sobre o perdão, extraída do livro “Meditações para pessoas em crise”:

“Você precisa sair do poço escuro do ressentimento e da autopiedade, no qual os golpes da vida o lançaram. Você precisa extirpar todas as desculpáveis fraquezas humanas que o tornaram infeliz. Precisa ter o coração grande e ser generoso diante das falhas de outras pessoas que, segundo você, o prejudicaram.

Seria uma grande oportunidade de conseguir rápido progresso espiritual, se pudesse substituir a reação emocional convencional pela reação filosófica, mais calma, se pudesse elevar-se acima do que Rupert Brooke chamava de “a longa insignificância da vida”.

Você não deveria guardar ressentimento contra aqueles que o prejudicaram, nem ficar remoendo o que lhe fizeram; deveria esquecer as coisas más e mesquinhas que as pessoas fazem e lembrar-se das coisas generosas, nobres e virtuosas que procuram fazer.

Que siga o exemplo de Jesus e perdoe com alegria, mesmo que seja setenta vezes sete. Por esse ato de perdão, você será perdoado pelos erros que também cometeu. No perdoar aos outros, você encontra seu próprio perdão. Essa é a Lei.

Dessa forma, você demonstra ser capaz de mudar rapidamente de uma perspectiva autocentrada para outra mais elevada, desferindo assim contra o ego pessoal um único golpe paralisante. Esse é, sem dúvida, um dos maiores esforços que se pode pedir a alguém, porém as consequências apagarão da memória as feridas e mitigarão os sofrimentos.”

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