Vivemos diante de uma instigante necessidade de entender o milagre da vida e o mistério da continuidade de consciência. Vamos deixar o corpo, e isso é inexorável, contudo, existe algo que é imortal dentro de nós, que está além da forma. Parece paradoxal, mas buscamos e ansiamos pela vivência do Eu Superior, contudo já o somos em essência.

Por tudo que leio sobre inúmeras experiências de vários sábios que tiveram a graça da iluminação, vejo que a questão da imortalidade da alma pode ser sentida. Lembro aqui uma resposta de Ramana Maharshi, o grande sábio indiano, quando lhe perguntaram para onde ele iria após sua morte física. Ele respondeu: “irei para onde sempre estive”, incitando-nos a buscar a esse despertar, a viver no mundo sem ser do mundo.

Na verdade, todos nós temos uma exigência inata de compreender o significado da vida e se não tocarmos, mesmo que levemente, o nosso Centro de Paz, ficaremos limitados pelas sensações corpóreas, pelo peso do carma, apegados e sem coragem para encarar os desafios. Se não conseguirmos perceber a Realidade Superior, permitindo que a Sabedoria flua através de nós, a busca espiritual trará uma enorme frustração.

Para os simples mortais como nós, alguns sentem, por pura Graça, que a mente está sendo “abraçada” pelo Coração. Esses átimos de segundos de vislumbres fugidios são auspiciosos, e essa experiência, quando é autêntica, nunca será esquecida, permanecendo como um bálsamo curador nos períodos de duras provas. Mas as antigas tendências e os velhos hábitos voltam, e retomamos a busca, contudo, com menor impacto das forças do ego.  

Esse abismo, entre uma vida orientada pela mente e aquela norteada por um nível mais elevado de consciência, pode ser preenchido pelos resultados da nossa busca espiritual, contudo, precisamos ir além, transcender nossa percepção limitada pelo tempo, pelo espaço e pelos condicionamentos, removendo os véus que encobrem nossa Luz. Essa busca acaba abrindo uma fresta, uma ínfima abertura que ilumina o quarto escuro; uma experiência que nos eleva para além de nossa consciência comum, e que também nos proporciona um raro sentimento de unidade com tudo e com todos.

Essa busca, mesmo que árida e infrutífera à luz do ego, atrai energias benéficas e eleva nossos sentimentos e ações. Nosso maior legado talvez seja vencer a nós mesmos, emanando para a vida toda a nossa bondade e todo o nosso amor, os quais funcionam como códigos de luz que “empurram a raça humana um milímetro para a frente, em seu longo caminho de volta a Deus”, nas palavras de Steven Pressfield.

“Ó tu, que és um exemplar do arquétipo divino; ó tu, que és o espelho da beleza real. Fora de ti nada existe … O que queres, busca-O em ti mesmo, pois tu és tudo”
(Rumi)

Finalizo essa breve reflexão com uma parábola descrita pelo médico indiano Deepak Chopra, a qual nos faz refletir sobre como encontrar Deus, não fora de nós, mas em um lugar de paz e harmonia no nosso interior. A parábola e as conclusões do autor constam do livro Ciência x Espiritualidade, capítulo “Deus é uma Ilusão?”, página 265. O livro foi escrito em parceria com o físico americano Leonard Mlodinow.

“Uma parábola simples me vem à mente. Numa remota cidade, vivia um talentoso escultor. Suas obras enfeitavam as ruas e parques da cidade, e todos achavam que eram muito bonitas. Mas o artista vivia recluso, estava sempre fora do alcance. Um dia, chegou um visitante. Admirando muito as estátuas, ele insistiu em conhecer o escultor. Mas ninguém sabia dizer onde encontrar o artista. Na verdade, ficou evidente que ninguém na cidade já o vira alguma vez; as esculturas simplesmente apareciam, como que por conta própria. Então, um ancião deu um passo à frente e disse que tinha a sorte de ter conhecido o esquivo escultor.

“Como o senhor conseguiu isso?” – perguntou o visitante. O ancião respondeu: “Fiquei diante desses maravilhosos trabalhos, em contínua admiração. Quanto mais olhava, mais eu via. Enxerguei uma complexidade e uma sutileza que ultrapassam tudo que eu já tinha visto antes. Não conseguia deixar de maravilhar. De alguma forma, o escultor deve ter percebido meu envolvimento, pois, para minha surpresa, ele apareceu a meu lado. Eu lhe perguntei: ‘Por que me escolheu para se mostrar, quando ninguém nunca o encontrou, não importa quanto o tenha procurado? Ele respondeu: Nenhum criador consegue deixar de se revelar quando seu trabalho é apreciado da forma como você aprecia o meu.”

“Podemos ver nessa historieta o único artigo de fé necessário. Se você mergulhar fundo na própria consciência, vai encontrar um lugar de paz e silêncio. Mas, com o tempo, esse lugar vai revelar muito mais que isso. A fonte da criação reside ali, e, quanto mais você vivenciá-la, mais rica e bonita torna-se a Criação. Para além do sofrimento está a alegria; a transcendência leva ao mundo da Luz. Vá até lá e veja por si mesmo, não em busca de Deus, mas em busca da Realidade.

No fim, talvez o artista não consiga resistir – sua apreciação do que ele criou o atrairá até você. Com isso, o divino não será mais uma projeção ou fantasia. Não será um pai ou uma mãe desejados. As escoras da realização do desejo não serão mais necessárias quando você estiver face a face com sua experiência interna do divino. Você não vai dar muita importância a coisas como visões de mundo. Elas são apenas o caminho das pedras para a mente. Enfim, será irrelevante se o Inominável assumir ou não o rosto de Deus. A Realidade em si é muito melhor quando vista com a mesma clareza que a luz do dia.”

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