Já faz muito tempo, vi um filme que me fez refletir sobre os ensinamentos filosóficos que a vida traz. Havia uma cena onde duas pessoas encontravam-se diante de um quadro belíssimo: o discípulo, aquele envolvido na busca do autoconhecimento, e o mestre, a pessoa que está igualmente nessa busca, contudo, um pouco mais adiante no caminho espiritual.

A pintura retratava uma grande área coberta de lixo, com urubus em volta; havia também duas crianças remexendo todo aquele material na busca de algo para saciar a fome. Uma cena triste, mas inspiradora, porque trazia a unidade através da harmonia dos contrastes.

O mestre indagou ao discípulo qual era a percepção dele a respeito daquela tela. O discípulo respondeu dizendo que o quadro retratava a miséria humana, o desequilíbrio, a injustiça e o fracasso de uma sociedade orientada pela competição e pelo egoísmo.

Na busca de aprendizado, o discípulo voltou-se para o mestre e “devolveu” a pergunta. Este prontamente respondeu dizendo que era um dos quadros mais significativos que ele conhecia, o qual explicitava a beleza do processo criativo, a expressão da criação divina que inspirou o pintor e aguçou sua sensibilidade. A pintura traduzia uma captação perfeita do Plano das Ideias.

Como a vida é filosófica, o mestre continuou com sua explicação sobre a percepção da pintura, dando ênfase ao que estava ali simbolizado: por detrás da aparência da miséria, retratada pela presença do lixo, poderia ser extraído deste material o adubo fértil para o nosso crescimento como seres humanos. Poderíamos conceber algo positivo que nasce das adversidades da vida e crescer através delas, porque as provas são nossas aliadas e molas que nos impulsionam.

Uma analogia importante, porque remete de imediato para uma autoanálise sobre como estamos nos conduzindo na vida e se estamos crescendo em consciência através daquilo que ocorre conosco e ao nosso redor. De fato, precisamos dos impulsos das provas para nossa reforma íntima e para ir na direção do reconhecimento do Eu Divino que todos somos. A lembrança constante de que somos um Eu Superior é uma prática que pode servir de estímulo na busca espiritual.

“O segredo da transformação está em movermos o centro da nossa vida para uma consciência superior”
(Sri Aurobindo)

Nos momentos de dificuldades, o aprendizado e a possibilidade de redenção e de resgate funcionam como adubos e nos trazem os ensinamentos que precisamos para aquele exato momento. Quando adotamos uma postura de aceitação e de entrega, parece que fazemos uma ponte com nosso Eu Superior, região de onde surgem a paz e a gratidão por tudo que nos ocorre. Lembremos sempre que a flor de lótus emerge dos pântanos e ergue-se em direção à luz, produzindo beleza e harmonia, mas sem se deixar contaminar pelas águas sujas do ambiente lodoso.

Eu me alegro por compreenderes que obstáculos são possibilidades. Como o lixo aduba a terra, assim a treva se decompõe em prol das flores de Luz. A treva faz aparecer o arco-iris”
(Morya)

E a cena do filme ainda nos oferece uma reflexão sobre a experiência dos contrários, através da qual surge a consciência de algo por meio do contraste. Temos a percepção da abundância material que recebemos por pura Graça quando nos deparamos com a miséria em volta; a percepção do quanto somos amados e respeitados quando encontramos pessoas com carência absoluta de afeto e sendo tratadas de forma indigna; quando “perdemos” alguém especial e não nos esmeramos para oferecer todo nosso amor e acolhimento àquela pessoa. E assim por diante. O artigo “O Apelo da Alma” pode ser uma leitura de apoio a esse tema, a qual traz uma simples visão sobre o apelo da nossa alma. Acesse aqui.

O fato é que, de tudo que ocorre, podemos extrair lições, agindo de forma harmoniosa e digna, ofertando à vida o melhor de nós mesmos. E o melhor está no nosso interior, que são os doces frutos do nosso coração espiritual, ligados ao amor, à fraternidade e à compaixão do Ser. Existe uma abundância dentro de nós, e certamente que não estamos condenados a padecer pelas misérias do egoísmo e, simultaneamente, cercado pelo bem, encapsulado pela forma. Assim como Tântalo, rei de Frígia, que segundo a mitologia grega, por ter cometido um grave erro foi condenado a padecer eternamente de sede e de fome, apesar de estar aprisionado em um ambiente com abundância de água e de frutos. O acesso ao melhor de nós mesmos só pode ser algo real e não uma busca tantalizante.

A vocação da Alma é servir, doar-se à vida, emanar no mundo Sua Luz. Como em uma oração, peçamos ao Pai Eterno que nos conceda a Graça de perceber os sussurros que vêm das profundezas do Ser, de forma a atuarmos como um espelho refletor do Seu Amor para todos aqueles que se aproximarem de nós.

Que assim seja!

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Sabiah – Conselheiro Voluntário