É sempre importante destacar uma chave fundamental para a busca espiritual: o alinhamento da nossa personalidade, incluindo as questões físicas, emocionais e mentais, com o Eu Superior, o verdadeiro “Comandante da Carruagem”. Esse alinhamento, que implica na subordinação dos nossos desejos à vontade do Eu Superior, é, em resumo, a verdadeira cura para o ser humano. É uma questão fundamental para o autoconhecimento, a alegria, a harmonia, a aceitação das provações, a liberdade e o nosso aprimoramento como ser humano. Somente seremos mais justos, nobres e fraternos na medida em que guiamos nossa vida pela bússola do coração espiritual.

Para uma melhor compreensão, vamos considerar que temos duas dimensões de consciência distintas: uma dimensão física/etérica e outra espiritual. Inúmeros filósofos e espiritualistas afirmam que vivemos em múltiplos planos simultaneamente. Portanto, a segmentação a seguir é puramente didática, pois cada Ser Humano é uma unidade indivisível, uma manifestação divina em si mesma.

Dimensão do Eu: nosso Eu Superior. Algumas vezes chamamos de espírito imortal, de alma, de self, de ser interior, de luz interna, de coração espiritual, de chispa divina e outros. O fato é que o Eu, com “E” maiúsculo, terá sempre a designação daquilo que não morre dentro de nós, que não está limitado pelo tempo e pelo espaço e que continua no seu eterno ciclo de evolução. Está ligado ao nosso propósito.

Dimensão do eu: nosso eu pessoal, nosso Ego. O núcleo de consciência projetado nos níveis materiais da vida, que dirige a personalidade e nos conecta com as aparências, os desejos, os pensamentos e a lógica mental, é o ego. O ego é a parte que deve ser transcendida e absorvida pelo eu superior, para que ocorra o alinhamento e a integração do ser. Portanto, o eu, com “e” minúsculo, terá sempre uma conotação pessoal ligada ao ego e aos aspectos materiais e subjetivos da vida.

Em geral, agimos de forma automática sem levar em conta a dimensão do eu superior. Forjamos nossa personalidade à luz de conceitos, cultura e condicionamentos sociais, e a mente acaba assumindo o controle de tudo, impondo-nos uma espécie de camisa de força e mantendo-nos presos às correntes do pensamento coletivo. Não fomos habituados a pensar de forma livre e desapegada, nem a buscar respostas e soluções dentro de nós mesmos.

Analogamente, seria como uma árvore que não tem consciência de suas raízes, que buscam no solo a seiva de vida que sobe pelo tronco e nutre os galhos, as folhas e os frutos. Uma árvore que não tem consciência da sombra que oferece, dos aromas que exala e dos frutos que oferece por puro amor. Nosso eu superior é a nossa raiz, nossa sustentação, nosso refúgio e a verdadeira morada. Nele está gravada a vontade do Criador e contém a força vital que sustenta e nutre todo o ser e seus sistemas.

Então, para o eu pessoal, o sentido de existência é definido pelo corpo físico; quando ele se deteriora e chega ao fim, tudo acaba. Não há nada além da morte. Para o Eu, a morte é pura ilusão, porque existe algo dentro de nós, uma centelha divina que permanece pela eternidade da vida.

Nossa alma continua e evolui por meio de inúmeras formas e em sucessivos planos de consciência. A conceituação com a visão do Eu não é fruto de crença mental, mas de vivências, ainda que fugidias, da sensação de estar vivo na sua plenitude.

“O verdadeiro Eu não é uma ideia, mas uma experiência.”
(Zen-Budismo)

Para o eu, cada ser humano é independente do outro e a visão da integração se dá por mecanismos de relacionamentos interpessoais, vivências sociais, familiares, aspectos consanguíneos, dentre outros. Existe a crença de que eu posso ferir o outro e isso não me causará nenhum mal. Para o Eu, todos os seres são apenas um e estão irmanados pelo amor da Fonte Única. Assim, se eu lhe causo mal, causo mal a mim mesmo. O Eu considera que somos “uma lasca que saiu do mesmo bloco de consciência, aquele de onde tudo provém”, nas palavras de Arthur Jeon, no seu livro Calma no Caos.

O eu pessoal vincula a segurança e a felicidade aos aspectos materiais da vida, aos valores pessoais. Acumular, no sentido amplo, sejam bens ou conhecimentos, bem como satisfazer desejos e necessidades, estão ligados ao prazer e à segurança, e constituem-se, muitas vezes, dos objetivos de toda uma vida. À medida que conquistamos, demandamos cada vez mais, numa frenética busca por preencher alguma carência ou vazio existencial; acabamos, enfim, nos tornando prisioneiros do nosso próprio egoísmo. Já o Eu encontra na doação de si mesmo o sentido para sua vida; a segurança e a alegria vêm do bem praticado, porque vai ao encontro da vocação da alma, que é servir. Para o Eu, estar seguro significa estar alinhado ao interior do seu ser, ao seu coração espiritual, morada do amor e da bondade.

Para o eu pessoal, a cura está ligada à remoção dos incômodos; a mente focaliza-se no nível do problema e da enfermidade. O sofrimento e a dor estão vinculados à infelicidade. Já para o Eu, a cura se dá pela submissão dos desejos pessoais à vontade suprema, condição necessária para a transformação e elevação do ser humano. O sofrimento se dá de forma criativa, como uma oportunidade de equilíbrio, de resgate e de aprendizado.

Sofrer e ser infeliz não são, de modo algum, a mesma coisa … Como a mãe que, embora sofrendo as dores do parto, está feliz porque espera a vinda de seu bebê, também nós podemos aceitar o sofrimento e vivê-lo como um trabalho criativo, se soubermos que ele serve para trazer à luz uma nova consciência”
(Elizabeth Leseur)

As decisões do eu levam em conta a razão, a lógica, as experiências do passado e inúmeras outras variáveis. Nesse cenário, a mente é soberana e comanda o espetáculo. Já as decisões com base no Eu consideram tudo isso, mas incluem, principalmente, aquilo que é intangível e que emerge do nosso interior. A intuição tem peso elevado no processo decisório. Pelo princípio da unidade, “Eu e meu Pai somos um”, tudo que vem da região do Eu está impregnado de sabedoria e amor, e envolve também as questões cármicas, individuais e coletivas, e o propósito de todos, ou seja, a Ideia Divina concebida pelo Criador para cada indivíduo e situação.

Os textos em itálico a seguir foram extraídos do livro A Guerra da Arte, de Steven Pressfield, páginas 141-146. Nas afirmações, o autor refere-se ao ego como o “eu pessoal” e ao self como “Eu Superior”.

(Para o Ego) O impulso predominante da vida é a autopreservação. Como a nossa existência é física, e, assim, vulnerável a inúmeros males, tudo o que fazemos, todas as nossas ações são motivadas pelo medo. É prudente, o Ego acredita, ter filhos para levarem adiante nossa linhagem quando morremos, alcançar grandes feitos que sobreviverão a nós e afivelar nossos cintos de segurança. (Para o Self) A suprema emoção é o Amor. A união e a assistência mútua são os imperativos da vida. Estamos todos juntos no mesmo barco.”

“(Para o Ego) Deus não existe. Não existe nenhuma outra esfera a não ser a física, e somente as regras do mundo material se aplicam. (Para o Self) Existe apenas Deus. Tudo que existe é Deus de uma forma ou de outra. Deus, o terreno do divino, é onde moramos, nos movemos e vivemos. Existem infinitos planos de realidade, todos criados, mantidos e inspirados pelo espírito de Deus.”

(Para o Ego) O tempo e o espaço são reais. O Ego é analógico. Acredita que para ir de A a Z, temos que passar por B, C e D … (Para o Self) O espaço e o tempo são ilusões e atuam somente na esfera psíquica… Em outras dimensões locomovemo-nos com a velocidade do pensamento e vivemos em múltiplos planos.

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