Lacrimosa-Mozart

Parece algo inatingível estar alinhado ao nosso interior, ficar simplesmente na quietude do ser. Com o passar do tempo, nos acostumamos com os pensamentos descontrolados, envoltos em turbulências mentais que não cessam e que trazem consequências danosas também nos aspectos físico e emocional.

O eu pessoal é um dos principais campos de batalha nessa incessante luta para vencermos a nós mesmos. Se deixarmos a mente livre, sem vigilância, os pensamentos impuros, frutos de mecanismos que nos aprisionam, trarão medo e nos aniquilarão. A negatividade tomará conta do ser e acharemos que a harmonia interior que tanto almejamos é algo reservado aos eleitos.

De fato, não vamos conseguir “dominar” a mente, assim como não podemos controlar e interferir em outros sistemas e processos que fazem parte da natureza humana. Já que não podemos paralisar os pensamentos, uma sugestão é ir além deles e nos estabelecermos “acima” da mente, em uma região que os observa, tão somente.

Quando ativamos o “Observador Interno”, acionamos de imediato um nível mais elevado da nossa consciência; as forças adormecidas acordam, como sementes enterradas na terra escura que rompem a casca, cuja árvore verá a luz, mais cedo ou mais tarde.

A mente argumenta que nunca vamos conseguir aplicar com eficácia essa permanente observação de nós mesmos. Mas, como tudo, precisamos colocar em prática aquilo que a nossa Sabedoria Interior nos diz na calada da noite, a voz do silêncio que nos aponta  o atalho para se chegar à conexão com o Eu Superior e com a quietude.

Esse exercício funciona como uma fisioterapia: dói no início, dá desânimo, esquecemos de fazer, requer persistência, disciplina e muita paciência. Parece que os estados de plenitude e de paz estão a léguas, contudo, a permanente observação dos pensamentos e a plena consciência de tudo o que estivermos sentindo, pensando ou fazendo é a chave que abre as portas para que a Sabedoria se expresse.

Essas práticas devem ser feitas a todo instante, em todas as circunstâncias. Se o exercício for esquecido, basta retomá-lo a qualquer momento. Essa Fisioterapia da Alma, assim praticada, certamente será incorporada no dia-a-dia e se estabelecerá por si mesma ao longo do tempo.

Paul Brunton, no seu livro “A Realização da Alma” diz que o tempo de prática varia de acordo com o grau de luta contra as forças do ego. Perceberemos que a verdadeira força do exercício está na recordação do Eu Superior, com devoção e com intenso amor e fé.

Podemos praticar essa lembrança, independentemente daquilo que estivermos fazendo. Ele, o Eu, fica em segundo plano e “pensamos tão frequente e tão intensamente nele, assim como uma moça apaixonada pensa no próximo encontro marcado com seu amado. Seu coração inteiro deve manter-se aprisionado por essa aspiração.”

Eckhart Tolle nos confirma a importância dessa fisioterapia:

Agora faça o seguinte exercício espiritual: enquanto se dedica aos seus afazeres diários, não dê atenção ao mundo exterior e à sua mente. Guarde alguma atenção para o seu interior.

Sinta seu corpo interior, mesmo quando estiver ocupado com suas atividades diárias, especialmente quando estiver em contato com outras pessoas ou com a natureza. Sinta a quietude no seu interior. Deixe o portal aberto.

É perfeitamente possível estar consciente do “Não-Manifesto” (Eu Superior) em todos os momentos da sua vida. Senti-lo-á como uma paz profunda, uma quietude que nunca o deixa, aconteça o que acontecer cá fora. Você torna-se uma ponte entre o Não-Manifesto e o manifesto, entre Deus e o mundo. É este o estado de ligação com a Fonte que damos o nome de iluminação.

Não fique com a impressão de que o Não-Manifesto está separado do manifesto. Como poderia estar? Ele é a vida dentro de cada forma, a essência profunda de tudo o que existe. Ele impregna o mundo inteiro”.

A filósofa Angela Maria La Sala Batà, num dos seus mais importantes livros, “À Procura da Verdade”, nos fala sobre o desenvolvimento da intuição e sobre a Realidade por detrás das aparências. Diz que para conhecermos a Realidade devemos evitar nos basearmos apenas nas impressões sensoriais, mas nos dedicarmos às questões ligadas ao desenvolvimento da consciência.

O primeiro passo para o desenvolvimento é o de procurar fazer experiências em nossa vida cotidiana, observando e analisando continuamente o nosso modo de viver e sentir, colocando-nos na posição de observador desapegado. […] Essa posição nos ajuda a sair da identificação com a forma, com o relativo, e para despertar o senso de síntese, que é a base da percepção correta.

[…] Como são numerosos aqueles que quando agem e vivem a vida exterior deixam-se viver, movidos por impulsos inconscientes, condicionados pela influência externa, escravos de hábitos e de automatismos. Até o seu pensamento é condicionado, suas opiniões não se fazem frutos de reflexões pessoais, suas decisões dependem de sugestões provenientes do exterior, seus estados de ânimo são criados pela identificação inconsciente com o ambiente que o circunda, suas ideias morais nascem do medo, impressões absorvidas desde a infância”.

Artigos do site relacionados ao tema:
Lidando com a Mente – Paul Brunton
Lidando com a Mente – Eckhart Tolle
Lidando com a Mente – José Trigueirinho
https://pedranolago.com.br/busque-o-silencio/

Leia as mensagens diárias do Pedra no Lago.

Aquisição do livro Pedra no Lago
Entrevistas Youtube
Divulgação Whats App
Instagram
Facebook