Para servir de forma mais real e eficaz, o homem deve tornar-se um meio de comunicação entre os mundos sutis e o mundo material, aprender a estar desperto enquanto sonha e sonhar enquanto está desperto, ter a consciência em vigília permanente e o coração em prece contínua.
A identificação com a vida material cria a ilusão de que o mundo interior está separado e distante do exterior. À medida que essa ilusão se desfaz, essas realidades se unem: a consciência vai reconhecendo sua verdade interna, os valores vão-se transferindo do mundo das aparências, da superfície, para o mundo das causas. Os acontecimentos cotidianos passam a ser vistos de um ângulo abrangente, universal. O ser já não luta contra o fluxo da vida, mas adere a ele com fé profunda e ardente gratidão.
A consciência que se interioriza gera serenidade e leveza no viver diário. A busca das realidades espirituais leva à transcendência das ameaças e dificuldades que numa vida comum, exteriorizada, a própria existência apresenta.
A vida de oração fortalece o ser e ajuda-o a não mais temer os perigos deste mundo, porque todos os fatos são por ele experimentados como obra divina, reconhecidos como parte de uma harmoniosa melodia cósmica.
Ao se almejar um estado de oração contínua, começa-se a perceber que agir em contato consciente com a realidade interior é bem diferente de fazê-lo tendo em vista apenas resultados materiais. Tocar as coisas, emitir uma palavra ou realizar uma tarefa ganham novo significado.
A autodoação fraterna brota naturalmente no coração dos que experimentam o contato com o mundo interior. Suas perspectivas se universalizam, esvai-se o sentido de posses e eles passam a compartir alegrias e bens, a comungar do inesgotável manancial de graças disponível a todos os que se esvaziam de si mesmos.
Após absorvidas as aprendizagens e as energias básicas de uma etapa do caminho espiritual, chega-se a um ponto crucial a ser superado, quando é requerido um novo salto no desconhecido. Esses saltos são como exercícios de desapego que se sucedem para que a vida se torne cada vez mais ampla. Oportunidades são então apresentadas ao ser e tudo lhe é ofertado para que o realize. Cabe somente a ele decidir lançar-se.
“Senhor, quando eu estiver com fome,
dai-me alguém que necessite de comida;
quando tiver sede,
dai-me alguém que necessite de água,
quando sentir frio,
dai-me alguém que necessite de calor.
Quando eu sofrer,
dai-me alguém que necessite consolo;
quando minha cruz parecer pesada,
deixai-me compartilhar a cruz do outro;
quando me encontrar pobre,
ponde ao meu lado alguém necessitado.
Quando eu não tiver tempo,
dai-me alguém que precise de alguns de meus minutos;
quando sofrer humilhação,
dai-me ocasião para elogiar alguém,
quando estiver desanimado,
dai-me alguém para dar-lhe novo ânimo.
Quando eu quiser que outros me compreendam,
dai-me alguém que necessite de minha compreensão;
quando sentir necessidade de que cuidem de mim,
dai-me alguém a quem eu tenha que atender;
quando pensar em mim mesmo,
voltai minha atenção para outra pessoa.
Tornai-nos dignos, Senhor,
de servir nossos irmãos
que vivem e morrem pobre e com fome.
Dai-lhes, através de nossas mãos,
o pão de cada dia, e dai-lhes,
graças ao nosso amor compassivo,
a paz e a alegria”
(Madre Teresa de Calcutá)