Beethovens-Silence-Ernesto-Cortazar

Esta frase de Martin Luter King Jr “todo homem deve decidir se caminhará na luz do altruísmo criativo ou nas trevas do egoísmo destrutivo” é quase um decreto de que precisamos sair da “bolha do mim” e pensar cada vez mais no outro, no coletivo, em aderência à lógica da alma, que é servir ao próximo. Afinal, nas palavras cristãs, “viemos ao mundo para servir e não para ser servido.”

Lembro-me da história de três operários que estavam assentando tijolos, contudo, cada um deles com visões e posturas completamente diferentes em relação ao modo de lidar com as situações da vida. Um deles considerava que sua missão era “assentar tijolos”; o outro, um pouco mais lúcido, dizia que estava “construindo um muro”; já o terceiro, com mais clareza do seu propósito, afirmava que estava “construindo uma catedral”. Poderíamos dar asa à imaginação e considerar um quarto operário, e talvez este, com a consciência ainda mais ampliada, dissesse que estava expressando a vontade da sua alma, colocando o bem e o amor acima da sua vontade pessoal e se disponho a fazer o melhor de si mesmo, em prol do bem comum.

Creio que esta simples história nos ajuda a refletir sobre muitos aspectos da forma de lidar com aquilo que a vida nos apresenta, em especial sobre o egoísmo, o “viver para si mesmo” e a falta de conexão com nossa alma. A fome e o desequilíbrio existem, mas não pela falta de alimento, de recursos ou de tecnologias, mas pela ausência de valores morais, pela falta de integridade e de fraternidade, pelo distanciamento do homem da sua verdadeira origem, do seu ser primordial, cujos atributos são ligados ao bem, à compaixão e ao amor ao próximo. Demos grandes saltos tecnológicos, mas não evoluímos na mesma proporção em relação à ampliação da nossa consciência, aos valores e à ética.

Os grandes seres da humanidade foram aqueles que se notabilizaram por terem se doado a uma causa e que serviram de forma incondicional, com desapego, com despojamento, dando o melhor de si para a elevação da vida. Fizeram o bem pelo amor ao bem, por convicção, e não para serem reconhecidos, laureados ou motivados por convenções sociais e regras. A doação de si e o serviço desinteressado e altruísta são, de fato, as vocações do nosso espírito. Nosso coração se alegra ao exercer essa prática.

“Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para a fogueira.”
(Leon Tolstoi)

Ainda inconscientes, tomamos decisões sem levar em conta a “catedral” e não percebemos que ela existe como um “estado de consciência”. Levemos em conta que a humanidade é Una, que estamos interligados de todas as formas possíveis, seja material ou espiritualmente falando. Se lançarmos uma pedra no lago, grande ou pequena, as emanações irão reverberar até a margem, lenta ou rapidamente, dependendo da qualidade e da força da nossa ação. Que seja uma pedra do bem.

Temos que ter a consciência mais ampliada possível, sem fronteiras de qualquer natureza, principalmente em momentos críticos como esse que a humanidade está passando. É importante estar com a catedral na mente em tudo que fizermos, seja numa simples ação, seja nos relacionamentos, quer na educação, na tomada de decisão, em qualquer área e circunstâncias da vida. Trata-se de um virar de chave, colocando-nos sempre na posição de servir, de ajudar à humanidade a sair da escuridão do egoísmo e da ilusão do materialismo.

Certamente que os padrões culturais e os condicionamentos impostos pelo processo educacional e pela mídia ajudaram a criar um padrão mental que fomentou a competição e criou um modelo de sucesso focado no ter e não no ser. Esse modelo impediu, de certa forma, a sábia prática do pensar mais no outro do que em si mesmo e nos afastou da nossa competência essencial e do nosso verdadeiro Propósito.

Colocar isso em prática nos impõe, de certa forma, uma luta interna, um diálogo entre dois personagens que puxam a corda para lados opostos. Sabemos que quando queremos dar um passo e pensar “fora da caixa”, as poeiras dos condicionamentos arraigados emergem do fundo do poço e embaçam nossa visão.

Precisamos muito da energia da “Vontade-Poder” para sair da inércia e moldar o homem que queremos ser. Não podemos agir apenas como um cidadão da nossa mente, acorrentado pelos grilhões dos condicionamentos das crenças e das ideias do inconsciente coletivo. Devemos seguir nossa “guiança” interna, nossa alma, nosso Coração Espiritual.

Aqui cabe uma breve reflexão de Paul Brunton sobre o “moldar do homem do futuro”, extraída do livro Meditações para Pessoas em Crise.

Sentado à mesa de carvalho, reflito sobre meu futuro e passo a fazê-lo agora sem preocupações e com uma calma quase completa. Compreendo, neste momento, o que havia percebido apenas vagamente antes, isto é, que embora os sofrimentos que ainda me atingirão não serão menos reais que os sofrimentos passados. Disponho de uma ampla liberdade de ação no sentido de, em meu íntimo, dar forma ao homem que terá de passar por estas aflições.”

“Tenho o poder de moldar esse homem interior; e o farei. Esse, então, será o meu futuro; as vitórias ou derrotas do destino representam somente a menor parte dele; a alma que se defronta com esse destino e o enfrenta corresponde à parte maior; e essa alma pode ser moldada por minhas próprias mãos.”

Em que pese os tropeços na jornada da vida, podemos “dar à luz a nós mesmos, àquela pessoa que nascemos para ser, àquela cujo destino estava codificado em nossa alma, nosso espírito, nosso gênio”, citando Steven Pressfield, em A Guerra da Arte.

O que importa, de fato, não é a posição, o nível de maturidade e a evolução, nem mesmo os resultados em si, mas a maneira como obtemos os resultados, a motivação que colocamos na mudança, a forma de nos conduzirmos na vida, a intenção com que realizamos algo e o grau de comprometimento que devemos ter com o bem da humanidade.  Desse modo, os acréscimos virão, certamente, cedo ou tarde, no tempo de Deus, pela eternidade da vida.

O “pensar mais no outro do que em si mesmo” traz aromas de bem aventurança, nos conduz na direção dos nossos padrões humanos mais elevados e nos coliga com o amor e com a fraternidade. Podemos fazer uma grande diferença, saindo da posição: “como isto pode me servir?” para “como posso servir a isto?”, citando a filósofa Lucia Helena Galvão. Afinal, de acordo com princípio espiritual de que somos uma unidade, um só corpo-humanidade (“Eu e meu Pai somos Um”), então, os outros somos nós mesmos; e nesse sentido, qualquer ato de ajuda fraterna feito pelo amor ao bem, trata-se de uma autoajuda.

“Não se pode ser feliz, se só se olha para si mesmo, quando só se pensa no interesse pessoal. É preciso viver para outrem, se se quer viver para si mesmo.”
(Sêneca)

Assista aqui a um pequeno trecho da palestra de Rossandro Klinjey: “Egoísmo, o causador de conflitos”



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