Edvard-Grieg-Amanhecer-da-Suite-Peer-Gynt

Mais uma bela história do escritor português Pedro Elias, co-fundador da Redepax. Ela nos faz refletir sobre o que fazemos com as dádivas que recebemos cotidianamente, e sobre como podemos colaborar com a vida, ao permitirmos que as sementes do bem que carregamos dentro de nós rompam a casca e produzam os doces frutos do Amor e da Verdade que alimentarão o mundo.

A vida espiritual e o Amor não se exaurem pelo uso. O gasto apenas faz com que o estoque aumente, tornando-o mais rico e intenso
(Annie Besant)

Certa vez um forasteiro ao passar por uma estalagem, entrou e sentou-se numa das mesas. Uma jovem que ali servia aproximou-se, cumprimentando-o enquanto lhe entregava o menu. Este pediu uma refeição ligeira que a jovem anotou.

Depois de ter comido, o forasteiro reparou que não trazia consigo dinheiro, pedindo à jovem que chamasse o estalajadeiro. Quando este se aproximou, disse-lhe:

“Não trago comigo dinheiro com que possa pagar esta refeição, mas se aceitardes poderei oferecer-vos estas duas sementes que contêm em si a Verdade Suprema e que me foram entregues diretamente por Deus”.

O estalajadeiro, honrado com tal oferta, aceitou. Antes de sair, o forasteiro chamou a jovem que o tinha atendido de forma simpática e acolhedora, oferecendo-lhe, sem que ninguém o soubesse, a terceira semente que trazia consigo.

O estalajadeiro pegou então as duas sementes e colocou uma dentro de um cofre e a outra no pedestal do templo para que a população pudesse louvar a Verdade Maior.

A terceira semente, aquela que o forasteiro dera à jovem que servia na estalagem, foi lançada à terra e regada com o amor que essa jovem dedicou a tal tarefa. E enquanto as pessoas se reuniam no templo para louvar a semente da Verdade Maior, e o grupo mais restrito se reunia secretamente para adorar a semente guardada no cofre, a jovem limitava-se a caminhar até ao quintal onde, todos os dias, ia regar a pequena semente.

E os anos passaram...

O culto à semente do templo cresceu e espalhou-se pela região. Muitas eram as pessoas, multidões imensas, que todos os anos caminhavam até ao templo para fazerem as suas preces e os seus pedidos.

O outro culto, o da semente guardada no cofre, mais reservado, secreto e misterioso, crescia também, trazendo até ao núcleo central, depois de provas de admissão e rituais vários, algumas pessoas da região.

E enquanto os dois cultos cresciam, a jovem que trabalhava na estalagem passava parte do seu tempo a cuidar da semente que, entretanto, se transformara numa bonita árvore.

E foi então que um grande burburinho se levantou naquela aldeia quando foi anunciada a chegada de um enviado de Deus. Ele, o mesmo homem que anos antes entregara as sementes, entrou na estalagem e sentou-se numa das mesas.

O estalajadeiro, honrado com tal visita, dispensou todos os empregados para que fosse ele o único a servir aquele homem. Foi então que este, ao recusar o menu, disse:

“Servi-me a Verdade”.

O estalajadeiro foi então buscar as duas sementes, trazendo-as até si:

“Aqui está a Verdade, Senhor”.

O forasteiro olhou para ele confuso, dizendo:

“O que me serves, homem? Achais mesmo que posso comer estas sementes?”

Ao que o estalajadeiro respondeu:

“Mas, Senhor, não me haveis pedido para vos servir a Verdade? Ela aqui está: as sementes que me haveis oferecido”.

O homem levantou-se desapontado, dizendo, enquanto saía:

“Quando eu vos ofereci essas sementes elas eram a verdade, mas hoje a verdade é outra”.

E saiu da estalagem com fome, caminhando pela rua principal da aldeia.

Foi então que, ao passar pelo quintal de uma casa mais afastada, ele viu uma árvore robusta e, junto desta, uma jovem. Aproximou-se.

“Que árvore bonita…”, disse ele num leve sorriso.

“Sim, mestre!”, respondeu a jovem, reconhecendo-o. “Nasceu da semente que me haveis oferecido”.

Ela aproximou-se então da árvore colhendo alguns frutos que lhe ofereceu, dizendo:

“Aqui está a Verdade que procurais”.

Ele sorriu, retorquindo:

“Agora que haveis compreendido; não guardeis esses frutos num cofre para os proteger, nem os coloqueis num pedestal para os adorar, mas doai-os ao mundo para que, no mundo, uma nova verdade possa nascer”.

E aquele enviado de Deus partiu satisfeito, pois pelo menos uma pessoa tinha compreendido a razão da sua missão e, assim sendo, novos frutos, germinados de uma árvore nascida das mãos sábias de quem soube compreender a verdadeira razão de ser uma semente, iriam ser doados ao mundo, saciando-o de uma longa fome.

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Sabiah – Conselheiro Voluntário