Ascensões

Subitamente, o desânimo emerge das profundezas, um misto de impotência e inutilidade. Algo similar a um imenso tonel de água, límpido na superfície, mas com muitas impurezas no profundo. São os opostos que se engalfinham no interior, uma árdua batalha para vencermos a nós mesmos.

Parece um retrocesso, mas trata-se de uma ascensão. À medida que a alma amadurece, momentos inusitados sinalizam que Algo nos guia, e a luta para colocar o pé somente em uma canoa, obedecer à voz interior, é um desafio para a mente lógica e racional. Imersos nesse mundo interno, estamos protegidos dos conflitos e das ondulações da superfície.

Às vezes, enfrentamos crises existenciais, próprias do longo processo de amadurecimento da alma. O Planeta é uma grande escola de aprendizado e oportunidades de evolução espiritual e, muito embora o clarão da luz dissipe a escuridão em volta, contudo, a natureza não dá saltos e nem corrompe etapas. Existem inúmeros degraus para ascendermos da Escola da Ignorância, passando pela Escola do Conhecimento, até atingirmos a Escola da Sabedoria.

Contudo, é imperioso quebrar os elos da corrente dos conceitos e das ideias sobre a nossa própria evolução, mesmo porque a escalada para Deus é infinita: sempre haverá um degrau acima, na longa jornada em direção à Unidade com o Criador. Nessa busca pela união, certamente somos acompanhados e estimulados pela Luz Maior, a qual pode ser sentida pelo coração.

O fato é que temos à mesa o instrumental necessário para acelerar a maturidade espiritual, de forma suficiente para não sucumbir às crises da personalidade. A negatividade do inconsciente coletivo aumenta a tensão interna e afeta todo o sistema, sendo cada vez mais premente a necessidade de alinhamento dos corpos da personalidade (físico, emocional e mental) à nossa alma.

O que precisamos é estarmos alertas para aquilo que nos aprisiona e impede a expressão plena do ser, ignorando por completo as desculpáveis fraquezas humanas que nos convidam à lassidão. Aspirar ardentemente pela guiança interior e atender aos apelos da alma que nos chegam pelas vias intuitivas são a nossa fonte de cura, nosso resgate aos planos elevados de consciência.

A lógica de uma vida guiada pela alma constrói os alicerces da fé. Com a fé, vem a devoção, e com a devoção nos abrimos internamente para que o silêncio se instale. Essa quietude interior mostra o que é para ser feito para o bem geral, já que Servir é a vocação da alma. Esse é o ciclo virtuoso que privilegia o serviço colaborativo e grupal e não algo que acentua o egoísmo.

“Para embeber uma terra seca nada é mais eficaz que as torrentes de água vindas do céu. Do mesmo modo, para renovar tua existência nada é mais eficaz que te entregares à vontade do teu Ser Interior. Podes deter-se nas paragens dos desertos humanos, mas se a tua busca pela vida espiritual for sincera, verás que o oásis que se mostram a ti nada mais são que miragens efêmeras. Tens à tua espera a brisa fresca das montanhas
(José Trigueirinho)

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