Clarinet Concerto in A Major – Mozart

Texto baseado na crônica de Luis Fernando Veríssimo, “Versões de mim”.

Na imaginação do autor, ele senta num bar para beber e, assim, esquecer a culpa de não ter feito algo ou não ter seguido outros caminhos, os quais teriam transformado sua vida atual para melhor. Ele faz algumas reflexões, indagando a si próprio como ele seria hoje se tivesse: feito um teste no Botafogo e se tornado jogador de futebol, conseguido aquele emprego e entrado para o serviço público, acertado na loteria, casado com a fulana, e assim por diante.

No mundo imaginário, ele consegue encontrar os personagens nesse mesmo bar, conversando com eles sobre a vida que tiveram. No final dos diálogos, o autor considera que o atual momento é a sua melhor versão, pois todos aqueles que ele, arrependido, imaginava ser, não triunfaram.

Sentimentos de culpa, arrependimentos e outros estados emocionais corrosivos sempre surgem e devemos afastá-los imediatamente. Pertencem ao passado e os respectivos fatos geradores guardam coerência com o nível de consciência de outrora. Em graus e tonalidades diferentes, tomamos inúmeras decisões sem consultar nosso mundo interior, nossa alma, e isso nos distanciou da fonte de sabedoria que lá tem sua morada.

Acho que a nossa melhor versão, aquela que nos engrandece como ser humano e traz a verdadeira paz, é aquela que dá ênfase à aspiração e à entrega de tudo o que fazemos à divindade dentro de nós, ao Comandante da Carruagem. No estado de quietude e de silêncio podemos escutar a voz que anuncia o próximo passo, e segui-la.

Se fizermos um retrospecto, certamente vamos perceber que os fatos relevantes do passado, aqueles que trouxeram uma efetiva elevação de consciência e nos tornaram um ser humano mais feliz, chegaram de forma silenciosa e inesperada, como uma conspiração dos céus para a nossa elevação. Mesmo as duras provas, aquelas que nos colocaram “de joelhos”, nos ajudaram sobremaneira a reforçar a fé, a humildade e a paciência, trazendo maturidade espiritual e fortalecimento para novos desafios.

Ao processo de busca espiritual temos que associar a aplicação no dia a dia daquilo que nos chega silenciosamente como mensagem da alma; ela conhece a trajetória e todo o enredo da nossa vida, funcionando como um GPS já configurado com o melhor caminho. Assim sendo, os resultados serão sempre auspiciosos, mesmo aqueles que aparentemente nossa mente considere como desagradáveis ou negativos.

Mas quando falamos sobre a nossa “melhor versão”, precisamos avançar um pouco mais e sair da prisão de conceitos e ideias sobre nós mesmos e nos considerarmos seres espirituais, essências divinas, como lascas que saíram do mesmo tronco de toda a vida manifestada. Se ficarmos paralisados analisando comportamentos e fatos do passado, estaremos engrossando ainda mais a corrente que não nos deixa alçar voos, inibindo a liberdade do ser.

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