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“Novos trajes” é uma breve história narrada pelo escritor português Pedro Elias, co-fundador da Redepax, a qual nos faz refletir sobre a verdadeira liberdade, que vem da nossa transformação interior, da morte dos velhos hábitos, das antigas crenças que são pesadas âncoras que impedem nosso crescimento.

A narrativa nos conduz pelos caminhos da autotransformação e da compaixão do ser, destacando que, onde quer que estejamos, na situação em que nos encontrarmos, poderemos usar as vestes do novo homem, do ser que exala os aromas e a suave fragrância do mundo interior, liberto das amarras do condicionamento pessoal e coletivo.

“Certa vez, numa aldeia, vivia alguém em conflito com a vida que levava. A razão desse conflito vinha do cheiro que ele sentia em todos os lugares onde se encontrava. Um cheiro entranhado em tudo, que o deixava agoniado, provocando todo o tipo de mal-estares. Para ele, esse cheiro era o resultado da decadência de todo o sistema onde ele vivia: um trabalho vazio e sem sentido, uma vida familiar onde o conflito e a indiferença se tinham instalado, e um mundo violento onde o ódio e a indiferença eram regra e não a exceção.

Resolveu então deixar o emprego e a família; quebrar com aquela vida que alimentava esse cheiro e partir na busca de outros aromas. Encontrou uma nova companheira e um novo emprego, mas o cheiro permanecia, impregnando o trabalho e a casa onde morava. Não conseguia encontrar a paz, apenas aquele cheiro que tanto o agoniava.

Acabou por deixar a nova companheira e o novo emprego, entrando numa ordem monástica de silêncio total. Certamente que ali, longe desse mundo que tudo impregnava com aquele cheiro agoniante, outros aromas ele iria encontrar. Mas para seu desespero, aquele mesmo cheiro permanecia. “Até aqui, neste lugar, a corrupção do mundo chegou, poluindo tudo”, pensava para consigo mesmo.

E também aquele mosteiro ele deixou, compreendendo, nas muitas reflexões de si para consigo mesmo, que só uma vida eremítica o poderia levar a encontrar esses outros aromas.

E assim partiu para o topo de um monte onde passou a viver sozinho. Estava agora longe da civilização e daquele cheiro que ele tanto detestava. Mas certo dia, enquanto meditava olhando o horizonte distante, esse mesmo cheiro se fez presente. Ele, indignado, levantou-se e olhou em volta, dizendo: “Quem está aí? Porque trazem para aqui o lixo do vosso mundo. Levem esse cheiro convosco e deixem-me em paz.” Mas para sua surpresa, não havia ninguém. Ele continuava sozinho. Como podia ser isso, se estava a sentir aquele cheiro, pensou.

E foi então que as lágrimas escorreram pelo seu rosto e ele finalmente compreendeu. O cheiro vinha dos seus trajes velhos, daquelas roupas sem cor que vestia, e não do mundo ou das outras pessoas. E compreendido isto, esses mesmos trajes sofreram uma transformação. As cores ganharam vida e o cheiro que atormentara parte da sua vida foi substituído por uma suave fragrância e um doce aroma.

Partiu então de volta ao mosteiro. Agora poderia ficar em paz junto dos seus irmãos, pois o cheiro tinha desaparecido. E ali ficou por algum tempo, mas logo percebeu que se o aroma doce e a fragrância suave vinham das suas vestes, onde quer que ele estivesse esse aroma o acompanharia. Até no lugar mais nauseabundo esse aroma se faria presente e nada mais o poderia agoniar. Lembrou-se então da sua primeira companheira. Agora poderia ter uma vida feliz, pensou.

E assim regressou para a sua vida de então. A companheira aceitou-o de volta e o patrão devolveu-lhe o emprego. Em todo o lugar onde ele se encontrava apenas aquela suave fragrância se fazia sentir. Estava finalmente em paz. O mundo continuava o mesmo, mas ele era agora diferente.

No entanto, em casa, sempre que regressava do trabalho, a sua companheira confrontava-o, acusando-o pelo cheiro que ela sentia. Compreendeu então que ela falava dela própria, do cheiro que as suas roupas exalavam. Nesse momento não sentiu mais raiva, ódio, nem houve nele resposta alguma à confrontação que recebia, como acontecia noutros tempos, mas apenas compaixão. Nada poderia fazer por ela, pois apenas ela poderia um dia compreender a origem daquele cheiro que tanto a incomodava. E assim deixou, uma vez mais, aquela aldeia e aquele contexto, partindo rumo a um novo destino.

Da primeira vez que partira, ele tinha fugido, e nessa fuga transportara por todos os lugares por onde passara aquilo que tanto o incomodava. Da segunda vez ele libertou-se e, com essa libertação, pôde finalmente encontrar o verdadeiro rumo para a sua existência.

E desta vez não se isolou mais em nenhum mosteiro nem no topo de qualquer montanha, mas partiu pelo mundo, pois por onde quer que ele passasse apenas aquele aroma se faria sentir. Nada mais o poderia perturbar. Estava finalmente em PAZ.”

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Sabiah – Conselheiro Voluntário