Canon-in-D-Pachelbel-Violin-Piano

Até que aprendamos a olhar os acontecimentos e tudo aquilo que nos ocorre com a sabedoria da alma, ficamos refém das práticas e hábitos antigos que trazem a falsa impressão de assegurar nossa proteção e garantir o “status quo”. Em geral, quando as vendas dos condicionamentos humanos não nos deixam enxergar com clareza as lições a serem apreendidas, somos egoístas, severos demais conosco mesmo e com os outros, e sem controle algum da situação.

Quando certas situações requerem a necessidade de sermos compassivos e calmos, a mente condicionada nos impõe uma verdadeira tirania dos velhos hábitos e das velhas reações. Se não estivermos atentos e observando tudo à luz de um ponto mais elevado da consciência, certamente nos arrependeremos no minuto seguinte àquela reação intempestiva, pois ela contraria o melhor de nós mesmos e não expressa a bondade que pulsa no interior do nosso Ser.

Por outro lado, apesar das pedras no caminho que surgem pelas provações, está presente uma grande chance de aprendizado e a oportunidade de revertermos a situação, sendo gratos diante daquilo que nos acontece. “Assim como um atleta que aceita com alegria um exaustivo treinamento porque sabe que aumentará suas capacidades físicas e revelará o melhor dele mesmo”(*).

Cabe aqui uma reflexão de Teresa de Ávila em relação aos tempos de escuridão, a qual nos faz refletir sobre os sentimentos de gratidão e de unidade com a Vida:

“Quando aquele meigo caçador do paraíso lançou sua seta sobre mim, minha alma ferida desmaiou em seus amados braços. Meu Amado se tornou meu e sem dúvida sou dele afinal”.

“Ele atravessou meu coração com sua seta de amor e me tornou una com o Senhor que me fez. Seu amor é o único que tenho, e minha vida se transformou tanto, que meu Amado se tornou meu e sem dúvida sou dele afinal”. (*)

Quando o frio e a escuridão da noite ameaçarem nosso caminhar, mesmo na aridez, poderemos reafirmar a Luz que temos dentro de nós, bem como confirmar os votos de que estamos de prontidão para atuar na vida como um canal de emanação do bem. Assim como procuramos as brisas frescas das montanhas para nos reabastecer após um longo esforço físico, o refúgio na alma também é necessário para aliviar o esgotamento emocional e mental.

Nos períodos de adversidades, podemos nos lembrar da imagem do “meigo caçador” que nos golpeia, aquele ferimento que fere para nos curar. Nos seus relatos, Santa Teresa conta que foram os momentos mais felizes da sua vida, pois, assim que caiu, ferida, os amados braços do Senhor lá estavam para ampará-la; ela saiu do estado de separatividade para o estado de união (*).

Assim também como a gaivota Jonathan, do filme Fernão Capelo Gaivota, optou por voos mais altos e mergulhos com maior velocidade à procura de espécies de peixe existentes em profundidades além da superfície, nós precisamos ir ao encontro dos veios subterrâneos da consciência para encontrar ânimo para nossa transformação e cura interior.

“… Na profundeza do Oceano da consciência está a paz, a pureza e a cristalinidade de uma perfeição que aguarda o momento de emergir…” (José Trigueirinho)

É nítido de que a persistência em vencer a nós mesmos é a mais difícil das batalhas. Em que pese a dor trazida pelas provas, quando a nossa mente é “abraçada” pelo nosso coração espiritual há júbilo, extremo contentamento, a paz emerge subitamente, e assim conhecemos o silêncio e o verdadeiro amor. “Em águas profundas reina o poder d’Aquele que é a Fonte de toda a vida”.

Que possamos ter a Graça de sentir permanentemente essa alegria, esse júbilo por detrás das provas da vida; como uma mãe, que apesar das dores do parto, sente uma gratidão profunda pela iminência da chegada do novo ser.

“Seja qual for o problema que o aflija, há apenas um refúgio seguro para o qual você pode sempre se voltar. Se tiver aprendido a arte de aquietar-se, poderá deixar o problema de lado por um tempo e, então, voltar-se para um nível mais interno, de absoluta serenidade e paz imperturbável. Quando você emerge do silêncio interior e retoma o problema, você traz também a força para suportá-lo corajosamente e a sabedoria para lidar com ele de maneira correta” (Paul Brunton. Livro: Meditações para pessoas em crise)

(*) Citação extraída do livro Mil Nomes de Deus, capítulo “O Destruidor”, de Eknath Easwaran.

Grupo de Estudos
Entrevistas Youtube
Entre para o Canal de Divulgação Whats App
Redepax
Instagram
Facebook
Sabiah – Conselheiro Voluntário