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Após relutar um pouco sobre a leitura da 51ª edição do livro “Em Busca de Sentido”, de Victor E. Frankl, escritor e neuropsiquiatra austríaco, em função do cenário desumano de um campo de concentração nazista, finalmente posso perceber os ganhos pela oportunidade de mergulhar um pouco sobre outras facetas do mistério da existência e sobre a busca de sentido para a vida. O livro é extremamente instrutivo e traz elementos fundamentais sobre o método terapêutico chamado Logoterapia, cujo objetivo e desafio é construir uma vida com responsabilidade e sentido, em que pese um cenário, as vezes, de muita dor e sofrimento.

O livro traz uma importante narrativa de quem viveu por um longo tempo a árdua experiência em vários campos como prisioneiro. Embora o contexto machuque a alma em algumas narrativas, contudo, em meio à dor e à degradação humana, é possível extrair ensinamentos e construir um método capaz de ajudar inúmeras pessoas a encontrar dignidade e forças para preservar a vida e vivê-la com plenitude. Neste ponto, vale um destaque da página 170:

“… Pesquisas de opinião pública na Áustria revelaram recentemente que aqueles que atraíam a maior estima e consideração entre a maioria dos entrevistados não eram os grandes artistas, cientistas, estadistas ou esportistas, mas aqueles que eram capazes de atravessar experiências difíceis com suas cabeças erguidas”.

Na logoterapia, as marcas do passado e a visão de futuro assumem, muitas vezes, papéis preponderantes para atenuar a dor e o sofrimento, além de mostrarem uma nova visão de um fato ou situação que pode ser a tábua de salvação das pessoas nos momentos de total escuridão. Muitos artigos aqui publicados falam do eterno presente, da busca de sentido de vida no nosso interior, contudo, vale destacar que as metodologias são mutuamente inclusivas, porque, no fundo, o que importa mesmo é a compaixão pela dor alheia e a profunda vontade de oferecer elementos que ajudem a resgatar a dignidade dos seres humanos, estejam eles presos fisicamente ou acorrentados pelo pensamento coletivo.

Segue uma breve passagem do citado livro, de forma que possamos ter ideia de alguns conceitos fundamentais da logoterapia. Título “Um Logodrama”, página 140. A vivência ocorre em meio a um grupo terapêutico, quando uma mãe relata a morte do seu filho de onze anos:

“… Quando seu filho morreu, ficou sozinha com outro filho, mais velho, que era aleijado, vítima de paralisia infantil. O pobre rapaz estava preso a uma cadeira de rodas. Sua mãe, entretanto, rebelou-se contra o destino dela. Mas quando tentou o suicídio, juntamente com ele, foi o filho aleijado que a impediu; ele gostava de viver! Para ele a vida continuara a ter muito sentido. Por que não se dava o mesmo com sua mãe? Como poderia a vida dela ainda ter um sentido? E como poderíamos ajudá-la a se conscientizar disso?

Improvisando, perguntei à outra mulher no grupo por sua idade, ao que ela respondeu: “Trinta anos”. Repliquei: “Não, você agora não está com 30 anos, mas sim com oitenta, deitada no leito da morte. E agora você olha para trás, para sua vida, uma vida sem filhos, mas plena de sucesso financeiro e prestígio social”.

Convidei-a então a imaginar como ela se sentiria dentro dessa situação. “Que você acha disso? O que vai dizer para si mesma?” Vou citar o que ela realmente disse, de uma fita gravada naquela sessão: “Ah, casei com um milionário, tive uma vida fácil, cheia de riqueza, e aproveitei bem! Flertei com homens, provoquei-os. Mas agora estou com oitenta anos; não tenho filhos próprios. Olhando para trás, como mulher de muita idade, não consigo ver para que foi tudo isso, na realidade, preciso dizer que a minha foi um fracasso.

Convidei então a mulher que tinha o filho paralítico a se imaginar em situação idêntica (com 80 anos), repassando sua vida. Vejamos o que ela disse, conforme está gravado na fita: “Desejei ter filhos, e esse desejo me foi concedido; um menino morreu, mas o outro, o aleijado, teria sido mandado para uma instituição se eu não tivesse ficado com ele, cuidando dele. Mesmo que ele seja aleijado e completamente dependente, não deixa de ser meu filho. Assim eu fiz com que ele pudesse ter uma vida plena; fiz do meu filho uma pessoa melhor”. Nesse ponto, houve uma explosão de lágrimas, e, chorando, ela continuou: “Quanto a mim, posso encarar tranquila minha vida passada; porque posso dizer que minha vida foi rica em sentido e dei duro para realizá-la; fiz o melhor que pude – dei a meu filho o melhor. Minha vida não foi um fracasso!”. Encarando sua vida passada como se estivesse no leito da morte, ela repentinamente pôde ver um sentido em sua vida, um sentido que incluía até mesmo todos os seus sofrimentos. Da mesma forma, ficara igualmente claro que uma vida de pouca duração, como, por exemplo, a do seu filho morto, podia ser tão rica em alegria e amor a ponto de conter mais sentido do que uma vida que durasse oitenta anos.

Pouco depois, passei para outra questão, dirigindo-me dessa vez ao grupo inteiro. Perguntei se um macaco utilizado para produzir soro contra poliomielite e que, por essa razão, fosse picado vez após vez, seria algum dia capaz de captar o sentido do seu sofrimento. O grupo negou unanimemente; pois, com sua inteligência limitada, ela não poderia entrar no mundo dos seres humanos, ou seja, o único mundo no qual seu sofrimento seria inteligível. Fui em frente com a seguinte pergunta: “E como é com o ser humano? Vocês têm certeza de que o mundo humano é um ponto final na evolução do cosmos? Não é concebível que ainda haja outra dimensão possível, um mundo além do mundo humano? Um mundo em que a pergunta pelo sentido último do sofrimento humano encontraria uma resposta?”

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