Em um passado distante, e durante muitos anos, quando a síndrome do pânico era uma grande inimiga, perambulava por consultórios na busca de medicamentos para aliviar aquele desagradável incômodo: um medo irracional que se manifestava em várias situações, principalmente em multidão, tempestades, local fechado, viagens e situações que fugiam ao meu controle. Boca seca, suores, tremores, palpitações e ansiedade eram vibrações densas que de vez em quando davam uma trégua.

Àquela época, esbarrava em um grande muro, mentalmente intransponível, e queria que o incômodo se afastasse de imediato, principalmente porque me afetava profissionalmente e, o mais crítico, sentia vergonha de apresentar inseguranças junto aos amigos, à família e no trabalho. Um ego “à flor da pele”, moldado por padrões comportamentais e educacionais que não admitem “fracassos”, inexoravelmente leva você a descobrir que para construir e manifestar algo novo é preciso que o velho morra. Até que alguns antigos padrões mentais se dissolvam, você acaba percorrendo uma longa estrada de sofrimento, uma batalha diária para vencer a si mesmo.

“Maior que a conquista em batalha, de mil vezes mil homens, é a conquista de nós mesmos”
(Dhammapada)

A síndrome do pânico causa uma desvitalização de todo o ser, abala sua autoestima, porque você luta contra um oponente interior, suas próprias sombras, e com pensamentos negativos que parecem não ter fim; a tendência é você querer fugir de si próprio. É uma fogueira que te queima por dentro. Na tentativa de se livrar do problema, você acaba por agravá-lo ainda mais, e com isso surge a culpa e a impotência diante da situação. Ao contrário do ciclo virtuoso da melhoria contínua, você entra em um ciclo de “pioria” contínua. Você está a um passo da depressão.

Foi assim que dei início a uma longa jornada médica, experimentando medicamentos que iam da “tarja preta” aos florais de Bach e remédios homeopáticos, além de terapias com psicólogos convencionais e espiritualistas e seções de meditação e ioga. Esse mix de tratamento, embora conduzido por excelentes profissionais, era ineficaz porque eu não conseguia enxergar as lições e os aprendizados associados àquela prova, ou seja, qual era a função espiritual do problema.

Com o passar dos anos e a persistência na busca de sentido para aquela prova, você acaba descobrindo que a meditação e a concentração na respiração nos níveis mais profundos são chaves para que a serenidade e a aceitação surjam. Quando começamos a praticar isso, o “observador interno” entra em cena e ai nos tornamos expectadores de nós mesmos, situação na qual o medo e a insegurança vão perdendo força de forma gradativa. O artigo “Fica” (acesse aqui) pode ser uma boa referência para aprofundamento nesse tema, além dos artigos de Paul Brunton, Eckhart Tolle e José Trigueirinho, sob o título “Lidando com a Mente” (acesse aqui).

Para mim, essa serenidade em meio ao pânico é a própria Graça Divina que bate à porta, resultado de um apelo à nossa Alma para que todo o sofrimento faça algum sentido, mostre o que precisa ser transformado para que as dores do parto cessem. Podemos passar por esse parto de forma criativa, vendo claramente que os problemas são nossos grandes instrutores e, de certa forma, e por mais paradoxal que seja, devemos ser gratos a eles.

Existem posturas que agravam a situação e a tornam ainda mais crítica, como a revolta, o desespero, querer a todo o custo acelerar e controlar o processo, comparações com experiências de outras pessoas, etc. Outras posturas tornam o caminho mais breve para a cura do problema, como a aceitação, a entrega e a fé nos ditames da nossa Alma, pois Ela sabe bem o que é melhor para a evolução do nosso ser.

Além da meditação e das práticas ligadas à respiração, aspirar pela cura interior, ter paciência e perseverar na entrega e na fé são outras questões-chaves fundamentais, lembrando que a cura surge pela aceitação da prova e não pela remoção dos incômodos. Se aceitamos, podemos compreender, e se compreendemos, transformamos a situação, elevando-a a um outro patamar de consciência. Podemos, assim, passar por elas com um pouco mais de serenidade e sabedoria.

“Sofrer e ser infeliz não são, de modo algum, a mesma coisa. Como a mãe que, embora sofrendo as dores do parto, está feliz porque espera a vinda de seu bebê, também nós podemos aceitar o sofrimento e vivê-lo como um trabalho criativo, se soubermos que ele serve para trazer à luz uma nova consciência”
(Elizabeth Leseur)

Aceitar as provas não se trata de uma atitude passiva ou escapismo covarde, mas uma conduta sábia, algo que pode nos redimir do passado e/ou proporcionar maior musculatura para novos desafios que estão por vir. O fato é que, qualquer que seja o motivo, devemos ser gratos à vida e não entrar em conflito com as forças de atrito, mas aceitar com naturalidade e reverência tudo aquilo que chega para nos elevar. Os médicos, medicamentos e terapias ajudam demais, mas só terão efeito prático se adotarmos uma postura humilde, de gratidão e o desejo ardente de evoluir através das dificuldades.

Certa vez, recebi uma carta de uma médica amiga, da qual extraí dois parágrafos relevantes.

“Deixe-se penetrar pela Verdade e busque a pureza original. Deixe cair as máscaras que já não lhe servem mais e procure ser mais fiel à sua Alma, comprometendo-se menos com o sistema e buscando viver a simplicidade.

Se adoecemos com consciência e buscamos a virtude que equilibra e autorregula nosso sistema, transcendemos a nós mesmos. Se adoecemos e nada se move em nós, a verdadeira cura nunca se manifesta e passeamos pelos compêndios de medicina.

Mas a história não termina aqui. Em 1989, nosso filho mais velho, àquela época com 9 anos de idade, ficou também imobilizado pela síndrome do pânico, a ponto e cessar todas as atividades lúdicas e escolares. Minha esposa saiu do emprego e dedicou-se integralmente aos cuidados dele. Eu, de certa forma, conseguia trabalhar, em que pese o medo ainda presente, mas o reduto de segurança dele era dentro de casa.

Passamos por um período de escuridão total, porque os medicamentos não funcionavam e as terapias atenuavam a questão, mas não curava. As dúvidas vinham com força e ficávamos paralisados sem saber o que fazer para cuidar de mim mesmo e, simultaneamente, criar as condições familiares para que nosso filho desabrochasse como ser humano.

Mas a Infinita Misericórdia chegou, silenciosa e fulminante, quase que decretando o fim de um sofrimento e o início de uma era de paz e gratidão. Uma pessoa me sugeriu assistir a uma palestra do José Trigueirinho, em 1990, no Rio de Janeiro. As mensagens dele trouxeram o bálsamo que precisávamos naquele momento para mudar radicalmente a forma de encarar o problema. Só uma grande bênção faz você sentir-se feliz e sereno, apesar de qualquer situação externa desfavorável.

Dias depois, escrevemos uma carta para o Trigueirinho e passamos a acompanhá-lo em quase todas as partilhas, em outros estados do Brasil. Em uma abençoada manhã, recebemos a resposta dele, cujo teor da mensagem funcionou como um pequeno furo na janela de um quarto escuro, cujo orifício foi suficiente para iluminar todo o ambiente.

Ele nos disse, basicamente, que é nos planos elevados de consciência que se encontra as soluções para os problemas da vida. Além disso, destacou que é o amor e a fé que curam e que os tratamentos convencionais podem ser efetivos, mas precisamos colocar em primeiro plano a fé e a união amorosa de toda a família, sublinhando que a paciência é uma grande força. As mensagens da carta do Trigueirinho podem ser úteis para quaisquer dificuldades. Leia a carta original completa.

A síndrome do pânico foi nossa grande instrutora e podemos sentir, no silêncio do ser, o quanto todos nós pudemos dar um pequeno passo, seja individualmente, quer em termos de união familiar. Somos eternamente gratos também àqueles que nos ajudaram a carregar a mochila nos momentos mais críticos. Temos que pedir muita luz para ser como os rios, que contornam obstáculos, perdem sua identidade e, finalmente, fundem-se no grande oceano.

Lembro também de Cecília Meireles, que nos disse em um de seus versos que seus verdadeiros pais são aqueles que te fizeram em espírito. Creio que ela se referiu a toda uma irmandade que se une para a ajuda mútua e, principalmente, aos Instrutores que são veículos dos ensinamentos filosóficos e espirituais, fundamentais para a nossa evolução. Certamente eles nos ajudam sobremaneira na remoção dos véus que encobrem o verdadeiro ser espiritual que somos. Acesse aqui a poesia “Cântico XXIV”.

Finalizando, segue uma síntese da reflexão do Dr. José Maria Campos (In Memoriam) sobre a síndrome do pânico, extraída do Jornal Sinais, número 3, de Figueira, comunidade situada no sul de Minas Gerais, Brasil.

“A sabedoria do mundo interno vai liberando, na medida do possível, as cargas psíquicas e emocionais armazenadas na consciência do indivíduo, fruto das experiências do passado. Esse processo de liberação ocorre quase sempre na esfera inconsciente, com a qual não devemos lidar diretamente. Todavia, como a matéria terrestre trilha hoje o caminho do retorno a patamares sutis e como a estrutura dos corpos humanos em consequência se afrouxa, certos aspectos dessas cargas ocultas podem emergir. Quando uma pessoa os contata conscientemente, pode vivenciar momentos de grande angústia e desespero, que muito abalam seu equilíbrio psíquico. O quadro agudo de crise interna então vivido denomina-se Síndrome do Pânico.

Essa síndrome é hoje bastante frequente, e pode ser agravada se a pessoa, por afinidade vibratória, entra em sintonia com cargas da esfera psíquica planetária. Um planeta com tanto desequilíbrio, em que se pratica em massa a mortandade de animais, em que se dizimam tantas vidas, em que se perpetuam guerras e outras condições primitivas, possui um psiquismo impuro. Só quando a pessoa polariza a consciência estavelmente em nível elevado pode manter-se a salvo das influências negativas e desintegradoras desse psiquismo.”

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