Clair-de-Lune-Claude-Debussy

Sempre me vem à mente a imagem de um jardim florido, onde crescem flores, mas as ervas daninhas também estão presentes; ambas conseguem conviver e crescer sob o mesmo solo, contudo, o jardim precisa ser harmonizado, adubado e as tiriricas, preferencialmente, devem ser retiradas junto com suas raízes.

Assim é conosco, somos um jardim em essência, contudo, convivemos com os opostos dentro de nós mesmos. Existe, na verdade, um abismo entre o potencial que somos como seres divinos, como espírito, e aquilo que manifestamos como pessoa humana. Muitas vezes, quando a Graça nos permeia, nosso jardim exala o perfume das flores que nasceram das nossas melhores sementes: o bem, a compaixão e a fraternidade estão presentes, nos atos, nos pensamentos e nos sentimentos. A paz e o amor surgem como uma brisa mansa que traz os aromas da bem aventurança.

Mas, subitamente, alguém aperta aquela tecla que aciona nossas dificuldades. Aquilo que parecia estar resolvido emerge com força, e ai percebemos que no nosso jardim existem as ervas que precisam ser extirpadas ou purificadas, de forma que avancemos com menos obstáculos no caminho e com a mochila menos pesada. A esses que apertam os “botões vermelhos” devemos ser gratos, pois escancaram aquilo que devemos batalhar para transformar. São eles instrumentos inconscientes da sabedoria da vida.


Em que pese sabermos conceitualmente sobre algo, no momento da prova, na oportunidade que temos de “honrar as verdades com a prática”, como disse Blavatsky, nosso barco fica à deriva na tempestade e perdemos momentaneamente a bússola do discernimento. É quando passamos por momentos de insegurança, de medo e de fragilidade. Vejo claramente o quanto é fundamental estarmos em alinhamento com o nosso ser interno, íntegro com a nossa fonte de sabedoria, de forma a não perdermos o equilíbrio e a paz interiores. Assim, poderemos agir e reagir com mais sabedoria e compaixão conosco mesmo e com os demais, frente às circunstâncias adversas.

Claro que as desarmonias momentâneas fazem parte do nosso crescimento; afinal somos humanos e divinos ao mesmo tempo. Mas devemos ser gratos pelas provas, aproveitando esses estados desarmoniosos para extrair, do lixo das imperfeições, o adubo do ensinamento que irá ajudar a renascer com mais beleza as flores do nosso jardim. Lembremos das palavras de José Trigueirinho: “Não te deixes abater por insucessos. Persevera. Lembra-te de que constróis para a eternidade.”

Sobre a luta que travamos internamente para expressar o melhor de nós mesmos, segue um pequeno trecho extraído do livro “À Procura da Verdade”, de Angela Maria La Sala Batà, capítulo XV – “O destino do homem”.

“O homem está em luta contínua consigo mesmo e a sua natureza dual o coloca constantemente ante a um dilema: seguir sua natureza animal ou obedecer ao seu Eu espiritual, que o incita a superar seus instintos, a sublimá-los, a fim de que se manifeste sua natureza divina.

Ele pode, se consegue colocar-se em sintonia com as profundas exigências da sua parte espiritual, tirar desse conflito um novo entendimento, e compreender que não se trata de suprimir ou destruir aquilo que o liga ao mundo da matéria e dos instintos naturais, mas de fazer brotar, do próprio atrito dos dois polos e do foco da sublimação, novas possibilidades e novas energias até então desconhecidas.

O verdadeiro homem é, pois, uma síntese dos contrários, que pode emergir apenas quando a exigência inferior for transformada e sublimada, terminando por estar completamente absorvida na natureza espiritual. A solução da eterna luta do homem, entre o Espírito e a matéria, entre o bem e o mal, está na síntese, isto é, na superação da dualidade em um ponto mais alto, no núcleo autêntico e central do indivíduo, o Eu.”


Apesar das pedras no caminho, sempre estamos buscando a Verdade sobre nossa existência, sobre o nosso papel como seres humanos. A busca do autoconhecimento é o que dá sentido à vida; em última análise, queremos refletir no mundo aquilo que fomos predestinados a ser, aquilo que o Pai idealizou para nós. Isso se dá, muitas vezes, de forma inconsciente, e podemos chegar até a duvidar disto em certos momentos, porque precisamos sentir a unidade com a vida e não crer em algo porque algum sábio disse. “O verdadeiro Eu não é uma ideia, mas uma experiência” (Zen).

Roguemos a essa Sabedoria Divina que não nos deixe cair nos momentos de duras provas, que nos preserve do mal, que nos ajude a vencer a nós mesmos, que mantenha nosso jardim sempre florido, exalando o perfume das esferas celestiais. Que possamos sentir, finalmente, o poder da Sua Presença e a presença do Seu Poder em todos os momentos e situações da vida. Que assim seja!

“É necessário muito tempo antes que o homem, purificado pelo sofrimento, revigorado pela dura luta contra a sua natureza inferior, avivado pelos estímulos das provas e das experiências da vida, comece a reconhecer em si a presença de um Eu mais alto, e tome consciência de sua verdadeira natureza espiritual, compreendendo que ela tem em si mesmo, o caminho e os meios para conhecer a Verdade” (Livro À Procura da Verdade – Angela Maria La Sala Batà)

Entrevistas Youtube
Entre para o Canal de Divulgação Whats App
Redepax
Instagram
Facebook
Sabiah – Conselheiro Voluntário