Cavalleria-Rusticana-Intermezzo-Mascagni

Da mesma forma que Mirra Alfassa (“A Mãe”) expressa a compreensão do Amor como a chama ardente do nosso Ser Divino, Khalil Gibran nos fala com o mesmo sentido: o Amor que poda nossos desejos, apegos e as imperfeições do eu pessoal; e nos encoraja a deixar cair as máscaras criadas ao longo das eras, as quais encapsulam esse Ser.

Gibran traz nas entrelinhas dessa preciosa reflexão o quanto devemos ser gratos à vida e a esperança de poder expressar o Amor com essa magnitude. Nas palavras dele: “O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.”

Então, Almitra disse: “Fala-nos do Amor”.
E ele ergueu a fonte e olhou para a multidão, e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, ele disse:

“Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.

Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que ele contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda.

E da mesma forma que ele sobe à vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes e as sacode no seu apego à terra.

Como feixes e trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor a vossa nudez.
Ele vos penetra para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações e, com esse conhecimento, vos convertais no pão místico do banquete divino.

Todavia, se no vosso temor procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.

O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui e não se deixa possuir,

Pois basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga: “Deus está no meu coração”, mas que diga antes: “Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.

O amor não tem outro desejo, senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes vossos desejos:
“De vos desiludirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite;
De reconhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor;
E se sangrardes de boa vontade e com alegria,
De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor;
De voltardes para casa a noite com gratidão;
E de adormeceres com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança”.

Gibran nos fala também do matrimônio, uma união de cada um consigo mesmo, com Deus, de tal forma que as relações entre eles possam expressar o verdadeiro Amor, que aguarda com paciência e fé que a semente de cada um germine e brote à seu tempo.

Então, Almitra falou novamente e disse: E que dizes do matrimônio, mestre?
E ele respondeu dizendo:
“Vós nascestes juntos, e juntos permanecei para todo o sempre.
Juntos estareis quando as brancas asas da morte dissiparem vossos dias.
Sim, juntos estareis na memória silenciosa de Deus.
Mas que haja espaço na vossa junção.
E que as asas do céu dancem entre vós.

Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão:
Que haja, antes, um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Encheis a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.
Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vos estar sozinho,
Assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vosso coração, mas não confieis à guarda um do outro.
Pois somente a mão da Vida pode conter vosso coração.
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis demasiadamente;
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,
E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro”.

Textos extraídos do livro “O Profeta”, de Khalil Gibran, editora Raval, 1971.

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