Para que tanta pressa, tantos cliques, tantas metas?
Vivemos na calçada, na superfície da vida, olhando os carros que passam sem perceber de onde vieram e para onde vão. Se subirmos ao topo do prédio, a visão se alarga: a velocidade muda, a trajetória se mostra. A busca frenética por conquistas e realizações, quando guiada apenas pela visão parcial e externa, nos escraviza, reforça a ilusão e nos afasta daquilo que é essencial.
É preciso descansar no Sem Tempo, no Sem Forma, no Eterno!
Em silêncio, reconhecer que tudo tem seu ciclo. Cada um caminha em um ponto evolutivo, buscando — consciente ou inconscientemente — sentido e propósito para a vida. Há em nós uma nascente de água pura que jorra sem cessar; ainda assim, insistimos em beber água barrenta da fonte dos desejos. E os desejos são como água salgada: quanto mais bebemos, mais sede sentimos.
Estamos em uma enigmática travessia.
Um mistério insondável paira no ar, e já é possível sentir no coração as luzes do despertar da consciência, o pulsar de uma nova vida que pode ser experimentada nesse exato momento. Podemos morrer e renascer a cada dia, atuando de forma plena, guiados por dentro, pelo Eu Maior. Ele conhece a meta, a trajetória, a velocidade e o ritmo. Cabe a nós apenas descansar n’Ele e deixar-nos conduzir.
Sempre haverá um ponto além, uma margem a alcançar. A escalada para Deus é infinita!
Mas é preciso mudar a forma de caminhar, para que a travessia se dê com alegria, calma e suavidade — como a brisa fresca das manhãs. Mudar exige coragem para experimentar o novo; requer entrega, para que o desapego alivie o peso da mochila e a travessia se torne mais leve.
Entre uma margem e outra, é ao silêncio que devemos nos consagrar.
É na quietude do ser que tudo se revela. O medo se dissolve e, das profundezas, emerge a coragem de dar o passo no desconhecido, de mergulhar no vazio e atravessar.
“Há travessias que não pedem pressa, apenas coragem para sustentar o silêncio entre uma margem e outra.”
(CA)
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