A Batalha Invisível

Outro dia conversei com uma pessoa profundamente presa às antigas narrativas da culpa e da incapacidade de perdoar. Ressentida e magoada, quase à beira de uma depressão, contudo, a chama do espírito ainda estava lá, impedindo que ela agisse segundo os velhos padrões que antes a sustentavam. Travava uma luta insana entre manifestar o “homem velho” (*), enraizado no ego, e deixar florescer o “homem novo” (*), pautado pela luz do Ser.

(*) Referência ao “homem” como símbolo do ser essencial, não ligado a gênero, raça, cultura ou ideologia.

Era o retrato vivo da batalha interior: vencer a si mesmo, domar forças retrógradas que insistem em se impor, abandonar as velhas trilhas sonoras da mente e entregar-se à sabedoria da alma. Um quadro que ecoa os diálogos de Arjuna, o discípulo, com Krishna, o mestre, no Bhagavad Gita, clássico espiritual indiano que simboliza a guerra íntima que todos travamos entre a ilusão da matéria e a pureza original do ser.

Nos momentos em que o ego pressente que vai perder a batalha, ele dá seu suspiro final, trazendo antigos argumentos: “não há cura”, “você não é digno”, “não vai conseguir” — como uma crosta espessa sobre o coração, impedindo que a seiva da vida circule. Mas, quando existe uma aspiração ardente pela mudança, a luz do Ser irrompe como nascente de água pura, dissolvendo a ilusão e curando-nos, independentemente do que acreditamos ou aprendemos como verdade absoluta.

É libertador não querer caber em molduras que nos aprisionam aos conceitos e ao passado. Aspirar pela cura é isso: na profunda quietude, pedir com sinceridade que se manifeste em nós aquilo que o Criador concebeu desde o princípio. É como confiar que a raiz invisível guarda, em segredo, a promessa da árvore inteira.

Que dádiva maior poderíamos querer do que seguir a sabedoria da alma, sem reservas? Isso traz dignidade e honraria à nossa vida.

No final da conversa, percebi que aquele ser diante de mim era, na verdade, um grande espelho. As palavras refletiam minha própria jornada e a de inúmeros seres que desconfiam que há algo por detrás das aparências. Afinal, tudo o que nos ocorre é filosófico, trazendo o ensinamento que precisamos para aquele momento.

Cada um com suas batalhas, sombras e perspectivas. Mas a verdadeira transformação acontece quando deixamos ser guiados por dentro, como uma oportunidade inequívoca de ascensão de consciência. Diálogos de coração para coração acendem a chama do espírito, em cada palavra e olhar. A cura e o resgate se dão!

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