De início, uma caminhada leve, em trilha plana e de curvas suaves. O som cristalino do riacho, o vento acariciando as copas das araucárias e o nascer do sol compõem um cenário perfeito. Uma harmonia rara brota das profundezas da alma, trazendo a vontade de congelar aquele instante, de deter o tempo e apenas agradecer pelas dádivas recebidas.
Logo à frente, a montanha se abre como um rasgo na paisagem, e a subida transforma o contexto. A respiração se acelera, e uma voz sutil murmura: “talvez não consiga”. A mente se turva, pede equilíbrio. Uma breve pausa, algumas respirações conscientes, e o silêncio interior traz serenidade — alinhando corpo e espírito.
Nesse instante, sinto que a mochila precisa ser esvaziada. Aliviar a carga significa deixar para trás apegos, medos, culpas e ressentimentos — como folhas secas que já cumpriram seu ciclo. Subir a montanha é, assim, um exercício profundo de perseverança e desapego. E de coragem!
A trilha revela picos e vales, lembrando que a vida também é feita de contrastes. Cada pedra, cada tronco no caminho ensina presença. Estar aqui, agora. Não se perder nas sombras do passado nem nas ansiedades do futuro. Pois, mesmo quando a seta aponta o caminho, apenas a atenção plena nos mantém na rota segura.
As araucárias mudam de cor, os vales se abrem imensos diante dos olhos, e a paisagem ensina que o essencial não é chegar, mas saborear a jornada. A cada tropeço, uma lição. A cada passo, um aprimoramento. A trilha mostra que a maior batalha é sempre dentro de nós mesmos.
A mata se fecha, o sol se esconde por um instante daquela auspiciosa manhã, novos aromas surgem, pássaros cantam. Uma sinfonia perfeita. E então, o coração se expande num sentimento inequívoco: somos parte de tudo o que se manifesta. Momentaneamente, sentimos que Somos Um.
O caminho se estreita, ladeado pelo riacho que lembra: a vida, como as águas, não volta atrás. É preciso seguir, até encontrar o oceano e se tornar uno com ele. No horizonte, novos picos se revelam. Agora, mais fortalecido, uma gratidão plena aquece o coração — suave como um remédio, trazido pelo silêncio, que alivia e dissolve as dores.
Graças à Vida. Graças a Deus.
Envie seus comentários
Livro Pedra no Lago
Instagram
Canal Youtube