De repente, tudo muda.
As preocupações se dissolvem no ar como névoa ao amanhecer. Os ressentimentos corrosivos cedem lugar ao silêncio, e até mesmo as culpas parecem perder o peso que carregavam.
Do mais profundo, o perdão desponta — como uma fonte escondida sob as pedras da dor. O que antes era terra seca e desértica transforma-se em adubo fértil, capaz de cicatrizar as feridas e preparar o solo para o renascer da consciência.
De joelhos — às vezes por fraqueza, outras por rendição — a alma sussurra um pedido de cura ao Criador. O coração apertado encontra, enfim, descanso na entrega. E o ego, tão habituado à resistência, é acolhido com um abraço cálido vindo do Coração.
Então, sopra o espírito.
Um vento leve, mas firme, move as nuvens da ilusão e revela a pureza original, a dignidade esquecida do ser. Os apegos são dissipados, os desejos cessam, os condicionamentos perdem força. Toda a escuridão dissolve-se sob a luz suave da alma. Basta uma pequena fresta para que a Luz penetre. A cura se faz!

A mente, antes voltada para os problemas, dá lugar a uma visão mais ampla — filosófica, compassiva — onde o sofrimento revela a sabedoria do espírito. E as provações, por vezes tão amargas, começam a transbordar bênçãos, como frutos raros que brotam após longa estiagem.
A verdadeira liberdade chega assim: sutil, silenciosa, como um alívio que nasce do nada.
E quando chega, a alma sabe.
As âncoras do passado são soltas, e o barco da vida enfim pode seguir seu curso, conduzido pelas correntes invisíveis do Grande Oceano.
Nada mudou no cenário externo. A vida segue, com seus fatos e reviravoltas.
Mas algo profundo se transformou.
Agora, os olhos enxergam de outro modo: com reverência, com neutralidade, com Amor. Um Amor que não exige, que não se impõe — apenas chega. E permanece, por um tempo… ou por toda a eternidade.
A fé começa a se firmar.
A gratidão alicerça o novo solo.
E os sinais da Graça são visíveis. Chegam como gotas de orvalho que lavam a alma.
A velha estrutura interna cede, e em seu lugar desponta a semente da renovação.
Graças a Deus!

“Quando fordes tomado pela dor, e a ela não resistais, abraçai-a.
Tomai o Vazio como irmão e sereis pelo Todo preenchidos.
Imersos nesse Vazio, nada busqueis.
Tudo o que vos for dado, com gratidão acolhei.
E será a paz, se a paz vos chegar.
E será a luta, se a luta vos chegar.
E será a Luz, se a Luz vos chegar.
E será a dúvida, se a dúvida vos chegar.
E será o amor, se o amor te chegar.
Quer seja a vida, quer seja a morte, sabereis que tudo isso é ainda ilusão.
E, nesse estado de sagrada imutabilidade, sereis, então, recebidos no Reino da Eternidade.”
(José Trigueirinho)
Envie seus comentários
Livro Pedra no Lago
Instagram
Canal Youtube