Nobuyuki Tsujii

Tenho a impressão de que todos aqueles que buscam viver uma vida orientada pelo espírito passam por momentos de aridez total. De um lado, nada surge do mundo interior, de outro, ainda não temos a consciência amadurecida para ter paciência e fé no processo conduzido pela alma. Ou seja, estamos na iminência de atravessar um deserto.

Em momentos assim, a luta entre os opostos dentro de nós é mais contundente. As forças antagônicas fazem pressão pela manutenção do velho, aquilo que estava sob o tapete ressurge “do nada”. As correntes do novo perdem a robustez e os elos se enfraquecem diante do cenário aparentemente desfavorável à reforma íntima do ser. Parece um quadro negativo, mas trata-se de um auspicioso momento de reposicionamento de conceitos, ideias e atitudes.

Nessas cinrcunstâncias, se abrimos mão da busca por uma vida orientada pelo espírito e sucumbirmos às forças retrógradas, toda a luta até o momento terá sido em vão. Vamos sentir um vazio existencial e o sentimento de um indesculpável fracasso. Certamente perderemos uma enorme chance de vencer a nós mesmos, a mais complexa das batalhas. Um retrocesso diante de uma oportunidade de ascensão, em geral, é algo corrosivo, que traz arrependimentos e machuca o coração.

Oue fazer? Só nos resta o silêncio e a perseverança na busca. A paciência também é uma arma poderosa que podemos lançar mão. Lembremos da citação zen-budista de que “em meio à batalha, não seja tu o guerreiro, mas deixe que o Guerreiro guerreie em ti”. Se não houver um alinhamento com a nossa alma e deixarmos que ela conduza o barco, vamos naufragar já bem próximo à costa.

A perseverança é sempre silenciosa. Não é algo estéril, sem sentido, mas criativa. Contudo, a fé tem que estar numa temperatura elevada para forjar a cura do desânimo que sempre surge nesses momentos de aridez. Perseverar não está ligado a fazer algo para atender aos apelos do ego, mas estar focado na persistência da descoberta daquilo que está vivo dentro de nós e que permanece pela eternidade. Se não tocamos a fonte, como saciar nossa sede de unidade com a Vida?

Determinadas situações têm seu ciclo de evolução e quando alguma coisa termina, ou seja, carmicamente já cumpriu seu papel, certamente que teremos as indicações para as transformações que precisamos fazer. A perseverança, a entrega, a fé e o silêncio andam de mãos dadas e mutuamente se influenciam.

O que é desafiador, e por definição positivo, é que atravessamos picos e vales. Nos momentos de baixa, basta olhar para cima e enxergar o topo da montanha, sabendo que há pouco havíamos atingido um patamar mais elevado. Isso nos deve encorajar e nos tornar antifrágeis! Assim como o lixo aduba a terra, devemos ter em mente que é nas batalhas que nos fortalecemos e que tudo tem seu lado positivo.

As variações na escalada afetam o ânimo e a fé, contudo o desapego e a gratidão podem ser o fermento que faz crescer o bolo da nossa consciência. Lembremos sempre que as trevas fazem nascer o arco-íris. Perseveremos!

“[…] A normalidade é uma estrada pavimentada: é confortável caminhar por ela, mas não há flores”
(Van Gogh).

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